Contra a Geopolítica do Esquecimento: Voz e Vez ao Norte de Minas

Ao olharmos para o Norte de Minas Gerais, torna-se evidente a urgência de uma geopolítica popular, que considere a população não apenas como beneficiária de políticas públicas, mas como sujeito estratégico, capaz de orientar decisões e ocupar o centro das ações de desenvolvimento.

Tradicionalmente, a geopolítica é entendida como o estudo das estratégias de poder entre Estados, suas fronteiras, interesses e recursos. No entanto, essa perspectiva convencional frequentemente ignora a principal força que molda o território: o povo. Ao olharmos para o Norte de Minas Gerais, torna-se evidente a urgência de uma geopolítica popular, que considere a população não apenas como beneficiária de políticas públicas, mas como sujeito estratégico, capaz de orientar decisões e ocupar o centro das ações de desenvolvimento.

A região norte-mineira, historicamente marcada por invisibilidade política, escassez de investimentos estruturantes e desigualdade territorial, representa um caso emblemático em que o território é disputado não apenas por sua geografia, mas por seus potenciais ignorados. Essa marginalização não é apenas técnica, mas geopolítica: decorre de uma estrutura de poder que concentra recursos no centro-sul do estado e do país, reforçando um ciclo de exclusão que só poderá ser rompido com a mobilização comunitária, fortalecimento institucional local e o reposicionamento do território nos mapas de decisão política.

Por isso, é preciso adotar uma estratégia de desenvolvimento territorial ancorada no protagonismo do povo. A população do Norte de Minas — agricultores familiares, quilombolas, indígenas, jovens, mulheres, comunidades tradicionais — deve ser referência para formulação de políticas públicas, para a elaboração de projetos de captação de recursos e para a consolidação de uma nova geopolítica: a geopolítica dos povos.


Essa abordagem rompe com a lógica verticalista das políticas assistencialistas e propõe uma nova forma de ocupação institucional do território, onde os dados socioeconômicos, os saberes populares, as práticas produtivas sustentáveis e as demandas das comunidades são transformados em argumentos técnicos e políticos capazes de atrair investimentos. Mais do que mapas e índices, a nova geopolítica territorial é construída com base em vozes, memórias, necessidades e soluções criadas a partir da própria terra.

No caso do Norte de Minas, isso significa:
• Planejar com base nas realidades locais;
• Fortalecer redes comunitárias e consórcios intermunicipais;
• Utilizar indicadores sociais como ferramentas de captação de recursos;
• Valorizar as práticas socioculturais e produtivas regionais;
• Reconhecer que território é mais do que solo: é vida, gente e luta.

Construir uma geopolítica centrada no povo é o caminho para transformar o Norte de Minas em território de dignidade, não de carência. É uma virada de chave: do “povo que precisa” para o povo que planeja, propõe e transforma.