A vida falsa nas redes sociais

As redes sociais estão repletas de frases de impacto, teorias psicológicas, lições de autocuidado e discursos espirituais. Mas a verdade é que, por trás de muitas dessas palavras, existe uma vida que ainda não se transformou.
Foto: Divulgação/Redes Sociais
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Vivemos na era da performance. Um tempo em que o saber é exibido, mas nem sempre vivido. Onde se fala muito sobre consciência emocional, mas pouco se pratica o silêncio interior. As redes sociais estão repletas de frases de impacto, teorias psicológicas, lições de autocuidado e discursos espirituais. Mas a verdade é que, por trás de muitas dessas palavras, existe uma vida que ainda não se transformou.

É fácil falar sobre limites, amor-próprio e saúde mental. É fácil escrever sobre autocura, traumas e relacionamentos saudáveis. Difícil é sustentar tudo isso no cotidiano, quando ninguém está vendo, quando não há likes nem aplausos — apenas a verdade silenciosa do espelho.

Foto: Divulgação/Redes Sociais
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Conhecimento sem prática não é sabedoria — é ego enfeitado. Quando repetimos ideias que não experienciamos, vestimos máscaras. E quanto mais se repete o que não se vive, mais distante ficamos de nós mesmos. Criamos uma persona social: aquela que parece saber, parecer estar bem, parecer ser livre. Mas parecer é uma prisão disfarçada de liberdade.


A era da performance exige que sejamos bons, fortes, conscientes e espirituais o tempo todo. E isso cansa. Cansa porque performar não é viver. Performar exige controle, cálculo e manutenção constante da imagem. Viver, ao contrário, exige entrega, vulnerabilidade e imperfeição.

Temos visto terapeutas que não se cuidam, especialistas em relações que mal suportam os próprios vínculos, pregadores da empatia que não toleram frustração. Isso não é hipocrisia, necessariamente. É um sintoma. Sintoma de uma sociedade que valoriza a imagem da transformação mais do que a transformação real.

Foto: Divulgação/Redes Sociais
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Mas o que você está fingindo que já aprendeu? O que você diz com força, mas ainda não pratica em silêncio?
A verdade não está no discurso. Está na vida vivida. Está nas escolhas, nas atitudes repetidas no dia a dia, no modo como tratamos os outros — e a nós mesmos — quando ninguém está vendo.

Talvez o maior ato de coragem hoje seja sair do palco. Descer do personagem. E permitir-se viver com sinceridade, mesmo que isso signifique parecer imperfeito. Porque só o que é vivido transforma.

🧠🩺 Leia a Coluna Psicologia Para o Dia a Dia pelo Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota.

Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota - Foto: Arquivo Pessoal
Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota – Foto: Arquivo Pessoal