“Um grande avanço para a ciência”. É desta forma que o professor doutor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Sílvio Guimarães de Carvalho, resume o estudo que desenvolve a partir de uma rede intercontinental de pesquisa sobre a Leishmaniose Visceral – o Calazar, como é popularmente conhecida. Após o trabalho de três anos, os resultados apontam para uma nova forma de diagnóstico da doença, detectada a partir da urina.
A pesquisa publicada pelo Journal Of Clinical Microbiology neste mês. O professor Sílvio Guimarães é um dos 12 autores, ao lado de pesquisadores dos Estados Unidos, África, Ásia e Europa. No Brasil, apenas o Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), vinculado à Unimontes, foi o responsável por enviar as amostras de urina coletadas de pacientes com Calazar. Essas amostras foram encaminhadas para análise na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – também parceira na pesquisa.
Todo o material colhido foi analisado e encaminhado para o laboratório central da Universidade de Tufts (North Grafton), em parceria com o Detector Gen Inc. Grafton de Massachusetts (Estados Unidos), que após receber as amostras mundiais, conseguiu identificar nas urinas coletadas dos pacientes cinco frações de proteínas (peptídeos) eliminadas pelas “leishmanias”.
Com as frações isoladas, os cientistas conseguiram realizar um teste rápido capaz de identificar 82% das pessoas com a Leishmaniose Visceral.
VALIDAÇÃO
Segundo o professor Sílvio Guimarães, que também exerce a Pediatria, esse novo teste ainda está em período de validação. “Ainda não temos o teste disponível comercialmente, mas já é um grande avanço para a ciência. Sem contar que este novo teste é menos invasivo para os pacientes, já que usaremos a urina para diagnosticar o Calazar, de maneira rápida e sem dor”, destacou.
O Calazar ou Leishmaniose Visceral atinge regiões endêmicas e, segundo o pesquisador da Unimontes/HUCF, “o que estamos vendo é apenas a ponta do iceberg. É preocupante o aumento da frequência e da gravidade dos casos”, ressaltou.
“Atualmente, o Calazar está identificado em 75 países da América do Sul, Ásia, África e Europa”, informa. Segundo ele, 90% dos casos existentes no mundo se concentram no Brasil, Etiópia, Índia, Quênia, Somália, Sudão e Sudão do Sul. O Brasil responde por 90% dos casos da doença na América do Sul.
CASOS NO HUCF
Em todo o ano de 2017, HUCF atendeu 189 casos de internação por Calazar. Em 2018, este número caiu para 91 casos de internação. Porém, esta diminuição no número de pacientes internados tem a ver com a descentralização no atendimento por determinação da Superintendência Regional de Saúde (SRS), já que muitos pacientes começaram a ser tratados em seu próprio município.
Somente nos quatro primeiros meses deste ano, o HUCF registrou 25 internações. “Estamos certos que a contribuição da Unimontes/HUCF foi altamente relevante na elaboração desse novo teste rápido, permitindo realizar um diagnóstico precoce e instituir o tratamento sem perda de tempo, reduzindo assim o número de óbitos”, finalizou o pesquisador.
Segundo a Organização Não Governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras, o Calazar é uma das doenças parasitárias que mais mata no mundo. Assim como a doença de Chagas e a doença do sono, o Calazar é uma das mais perigosas Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs).
A Leishmaniose Visceral, também conhecida como Calazar, é a forma mais grave das leishmanioses. Se não for tratada, chega a ser fatal em mais de 95% dos casos. O calazar é endêmico em 47 países – sendo altamente endêmico no subcontinente indiano e no leste da África – e aproximadamente 200 milhões de pessoas correm o risco de serem infectadas. Estima-se que 200 a 400 mil novos casos de calazar ocorram anualmente no mundo. Mais de 90% dos novos casos ocorrem em seis países: Bangladesh, Brasil, Etiópia, Índia, Sudão do Sul e Sudão.
Fonte: Ascom da Unimontes/HUCF