Coluna Sal da Terra: escrita terapêutica

Imagem: Internet/ Ilustrativa

Na minha visão, a coluna que escrevo precisa surpreender logo.

Esse amor à primeira vista é fundamental para o leitor.

Por isso começo sempre com um spoiler, considerando revelar uma parte importante do enredo do meu texto.

Estou resignificando meus sentimentos graças à escrita terapêutica, que é a chave da descoberta de si mesmo através da escrita.

Através dela, é possível descobrir emoções, pensamentos, sentimentos e medos que podem não ter sido expressos antes.

A escrita pode ser usada como ferramenta terapêutica para ajudar a pensar em soluções para problemas, para expressar sentimentos reprimidos ou para simplesmente se conectar consigo mesmo.

A chave da escrita terapêutica é escrever sem censura, sem julgamento e sem pressões externas.

É um espaço seguro e particular onde as pessoas têm a oportunidade de se expressar livremente e de encontrar respostas dentro de si mesmas.

Há também a escrita cartártica, que significa purgação, purificação, libertação do que estava contido ou sensação de alívio causada pela consciência de sentimentos ou traumas.

É também desabafo em prosa e poesia.

Eu estou fazendo da escrita cartártica uma terapia. Ela me permite realizar uma cura através da catarse, uma limpeza ou uma purificação pessoal, liberação de muitas emoções guardadas.

Vou escrevendo e colocando os sentimentos no papel, descubrindo que é um poderoso processo terapêutico que pode ajudar na solução de problemas represados.

Esta coluna nos lembra da capacidade do poder divino da palavra para transcender barreiras e conectar corações, celebrando a resiliência humana e a importância de manter viva a memória de entes queridos.

E dizer que quando se vive mais, muitas coisas se perdem nesta travessia.

Não só os entes queridos se vão, perdem-se também várias outras coisas.

Nas minhas escritas há perdas e dores, que fazem parte da vida de todas as pessoas.

Ao escrever sobre a morte de Paula de Izabel Allende e a imensa dor que isso causou à sua familia, é inevitável recorrer à memória da minha própria experiência da passagem da minha filha Nah para o plano espiritual.

Minha mãe, que também perdeu uma filha e uma neta, dizia: “nunca mais vai te acontecer algo comparável, você já passou pelo inferno, então o resto da sua vida será fácil”. Ela tinha toda a razão.

Agora que ela não está aqui, continuo escrevendo colunas, com a ideia de que existe outros pais e mães que passam pela mesma situação.

Essa memória é muito triste mas posso descrevê-la porque sei que compartilho o luto com milhões de mulheres e homens que perderam seus filhos.

Aí que entra a escrita catártica.

É aquela que, de tão leve que deixa um peso enorme para trás, soltá-lo no ar e deixar voar livre como um pássaro.

Eles não estavam sob meu controle: o fato de que meu pai partiu, minha mãe partiu, minha irmã partiu, de que perdi bens materiais.

Todas essas coisas aconteceram, decididas pelo destino, karma, ou quem sabe lá o quê.

Simplesmente vivi o que a vida me ofereceu.

A literatura me ajudou a quebrar uma cadeia de sentimentos em minha alma.