Sempre tive um profundo apreço pela minha ancestralidade.
Sinto que carrego a marca dos meus antepassados em meu ser.
Minha identidade, minhas características físicas, até mesmo certas predisposições e tendências que possuo como a poesia, vêm desse legado.
Para mim, há algo quase sagrado nessa conexão com aqueles que vieram antes.
Ali, no Museu da Cachaça, entre a cultura, memória e história e o brilho da inspiração,
nasceu um instante raro:
o Museu deixou de ser apenas guardião da memória
e se tornou também guardião de emoções vivas,
um templo onde a arte da palavra encontrou abrigo.
Refiro-me nesta coluna para o WebTerra
ao uso da Ancestralidade como fonte de inspiração e tema na criação artística, especialmente na poesia.
“Tenho a veia poética do meu avô”.
Dele herdei não apenas o sangue que corre nas artérias, mas também o ritmo secreto das palavras, como se cada verso já estivesse inscrito na memória da família.
Hoje, quando pego o papel, sinto um pouco a presença dele. É como se sua voz ecoasse em mim, guiando-me pelo mesmo caminho de encantamento.
Ter a veia poética do meu avô é carregar um legado: a certeza de que a escrita não é apenas arte, mas herança, sangue, raiz que floresce em novas gerações.”
Portanto, escrevi nesta coluna um poema inspirado na ancestralidade poética, como herança espiritual, cultural e afetiva do meu avô Zé Santiago.
Ancestralidade Poética.
Carrego no peito vozes antigas,
texto do meu avô que nao conheci,
raízes que brotam na memória,
sementes que o tempo insiste em florir.
O sangue que corre em minhas veias
não é apenas meu — é herança familiar,
traz cantos de luta, rezas e danças,
traz dores e sonhos que ainda vou recitar.
Nos meus poemas há recados antigos,
nas pedras do chão, histórias guardadas,
sou fruto das mãos que lavraram a terra,
sou verso das bocas caladas.
Minha palavra não nasce sozinha:
vem de um coro invisível, um manto sagrado,
sou poeta de ontem e de agora,
sou herdeiro do não silenciado.
Ancestralidade poética me guia,
feito estrela que nunca se apaga,
escrevo, e em cada linha que deixo
uma multidão caminha e fala.
Baseado neste texto do meu avô Zé Santiago, Júlio Andrade e Valdenice Maria Barbosa , estão dando suas contribuições para tradução numa Roda de Poesia no Museu da Cachaça, sob direção de Rena Ferreira e Kênia Gusmão.
É a exploração da herança cultural, familiar e espiritual de um indivíduo ou grupo como matéria-prima para a expressão criativa, buscando conectar o presente com o passado e fortalecer identidades.
A ancestralidade, nesse contexto, não se limita apenas à linhagem familiar, mas também engloba a cultura, tradições, saberes e experiências dos antepassados.
Ao trazer a ancestralidade para a poética, os artistas buscam:
Resgatar histórias e memórias:
Valorizar narrativas individuais e coletivas, muitas vezes silenciadas ou marginalizadas, e dar voz a diferentes perspectivas sobre o passado.
Reconhecer e celebrar a herança cultural como um elemento central na formação da identidade pessoal e coletiva.
Utilizar a ancestralidade como ponto de partida para discutir questões sociais, políticas e existenciais, como racismo, desigualdade e memória.
Conectar passado, presente e futuro e estabelecer um diálogo entre diferentes épocas e gerações, compreendendo como o passado influencia o presente e molda as expectativas para o futuro.
A poética da ancestralidade pode se manifestar de diversas formas, como na escolha de temas, na linguagem utilizada, na incorporação de elementos culturais e na própria estrutura dos poemas. É um campo fértil para a criação artística, permitindo a construção de pontes entre diferentes saberes e experiências, e a expressão de vozes diversas e potentes.