Outro dia, no meio de uma conversa trivial, soltei sem pensar:
— “Ah, não sei, tenho antipatia de gente sonsa”.
A pessoa à minha frente arqueou as sobrancelhas.
— “Antipatia? Nossa…pesado!”
Fiquei ali, pensativa, mastigando a palavra. Será mesmo que é pesado? Eu, que vivo da língua, sou apaixonada pelas palavras e suas nuances, estava usando “antipatia” como sinônimo de chatice, implicância ou até pequena irritação sem motivo.
Fui atrás desta famigerada palavra. Literalmente. Descobri que tem origem grega antipátheia, “sentimento contrário”, e do latim antipathia, “aversão natural”. Ou seja, um não gostar que nasce sem explicação lógica, mas com força emocional. É diferente de raiva, que normalmente vem de algo concreto. A antipatia é mais sutil, mais instintiva. É como se o corpo respondesse antes de a mente entender.
No dicionário, lá está ela: “Sentimento de repulsa instintiva ou aversão que alguém sente em relação à outra pessoa, a algo ou à alguma situação.”
Pois é, quando digo que achei algo “antipático”, estou apenas dizendo que me aborreci ou que não gostei. Estou dando à palavra profundidade que talvez ela mereça, naquele contexto.
Eis a beleza – e a armadilha – da língua: as palavras têm peso, cheiro, temperatura. Umas entram na sala com os dois pés na porta. Outras escorregam feito vento frio na nuca. “Antipatia” está entre as primeiras.
Poderia usar outras palavras, tais como “chato”, “incomodativo”, “desagradável”, “aborrecido”, _ quando é isso mesmo que quero dizer _, poderia, mas não quero. Gosto de antipatia, é bonita, é sonora, é eufônica! Porque, sinceramente, algumas pessoas ou situações continuam me provocando arrepio inexplicável. E para esses momentos, só mesmo a antipatia serve.