Apesar de fazer parte da Região Sudeste do Brasil — a mais rica e urbanizada do país — o Norte de Minas Gerais ainda carrega características estruturais de subdesenvolvimento típicas de outras regiões historicamente negligenciadas. O que se vê nesse território é um claro exemplo das desigualdades intrarregionais, onde uma sub-região inteira permanece à margem do avanço social e econômico de seus vizinhos.
Enquanto cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Vitória avançam em direção à economia digital e à urbanização plena, municípios como Porteirinha, Jaíba e Espinosa enfrentam problemas básicos como saneamento precário, baixa escolaridade, acesso limitado a serviços de saúde e baixa diversificação econômica.
Segundo dados do IBGE e do PNUD, o PIB per capita de municípios norte-mineiros gira em torno de R$ 12 mil por ano, enquanto a média da Região Sudeste supera os R$ 40 mil. O IDH médio do Norte de Minas está abaixo de 0,660, enquanto a média da região ultrapassa 0,780. O acesso à rede de esgoto, por exemplo, é inferior a 35% na região, enquanto supera 85% em estados vizinhos como São Paulo e Espírito Santo.
Essa defasagem não é apenas uma herança histórica, mas uma realidade atual que exige medidas urgentes e direcionadas. Para ilustrar o desafio: mesmo que o Norte de Minas cresça a uma taxa real de 5% ao ano, levaria cerca de 25 anos para alcançar o nível de renda per capita atual do restante da Região Sudeste, que se projeta crescendo a uma média de 2% ao ano. Caso o ritmo fique em 4% ao ano, o tempo para convergência ultrapassaria 30 anos. Já com crescimento de 3% anuais — o mais comum em regiões de baixa densidade industrial — a região possivelmente não alcançaria o Sudeste no horizonte de uma geração.
Essas projeções deixam evidente que crescimento isolado não é suficiente. É necessário que esse desenvolvimento venha acompanhado de investimentos estruturantes em educação, infraestrutura, cultura, inovação e adaptação climática, especialmente considerando o perfil semiárido do território.
O Norte de Minas é um território de resiliência e riqueza cultural imensa, mas que demanda uma política pública sensível à sua singularidade. O avanço da equidade territorial no Brasil passa, obrigatoriamente, por um olhar mais atento ao interior das regiões — e não apenas à comparação entre elas. A superação do descompasso dentro da própria Região Sudeste é uma das grandes tarefas para um país que pretende crescer com justiça social.