No fundo do poço…mas com dicionário na mão

Mas, e se eu te dissesse que o fundo do poço também tem aula de Português?

Dizem que, quando a vida desanda de vez, a gente vai parar no fundo do poço. Perde o ônibus, o emprego, o amor e, se bobear, até a senha do banco. E, no auge do drama, ainda escuta: “Ah, mas agora só tem um caminho: pra cima.” Poético. E um pouco desesperador também.

Mas, e se eu te dissesse que o fundo do poço também tem aula de Português?

Vamos lá: o que significa essa expressão tão dramática, “fundo do poço”? Literalmente, é o ponto mais baixo de um poço. Figurativamente, é o auge do sofrimento, da crise, da dor. É um idiotismo – uma expressão idiomática que não deve ser interpretada ao pé da letra. Afinal, ninguém espera encontrar alguém literalmente vivendo dentro de um poço (se encontrar, chame ajuda!).


Essa expressão é um exemplo clássico de como a metáfora dá um tempero especial à linguagem. Não dizemos que a pessoa está triste, dizemos que ela está “no chão”, “em frangalhos”, ou que “levou uma rasteira da vida”. A língua é uma especialista em dramatizar com beleza.

Agora, veja a ironia linguística: é no fundo do poço que muita gente encontra força, aprende, se reinventa. E a língua portuguesa acompanha esse movimento. Do “fundo” surgem palavras de resistência: superação, recomeço, resiliência (essa palavra da moda que vem do latim resilire , que significa “voltar ao estado original”).

Portanto, se você está aí, com a vida te dando um baile, saiba que até o Português está do seu lado. Te empresta palavras, expressões e até uma pontinha de esperança disfarçada em metáfora.

E, se faltar força, lembra: o poço é fundo, mas a língua é rica. Sempre dá pra cavar um texto novo e reescrever a história. Afinal, no fundo do poço da sua vida pode existir uma mola propulsora.

Aprenda com quem sabe!