A chegada do medicamento Mounjaro às farmácias brasileiras reacende o debate sobre o uso de canetas injetáveis como aliadas no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Disponível por valores a partir de R$ 1.406 (com desconto de laboratório), o remédio pode ser adquirido sem prescrição médica, o que tem aumentado sua procura e circulação, especialmente pelas redes sociais.
Para esclarecer o funcionamento dessas substâncias, o endocrinologista Márcio Krakauer, coordenador do Departamento de Saúde Digital, Telemedicina e Inovação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), explica as principais diferenças entre os medicamentos mais conhecidos no mercado: Ozempic, Wegovy e Mounjaro.
O que diferencia Ozempic, Wegovy e Mounjaro?
De acordo com o especialista, a principal diferença entre as três medicações está no princípio ativo. Ozempic e Wegovy contêm semaglutida, enquanto o Mounjaro tem como base a tirzepatida. Os dois primeiros são fabricados pela Novo Nordisk, e o terceiro é produzido pela Eli Lilly.
Esses medicamentos imitam a ação do GLP-1, hormônio liberado pelo intestino após as refeições, responsável por promover sensação de saciedade e controlar os níveis de glicose no sangue. A tirzepatida, presente no Mounjaro, vai além: também atua no GIP, outro hormônio gastrointestinal, o que potencializa o efeito de redução de apetite e controle glicêmico.
“O efeito mais marcante dessas medicações é a diminuição do apetite e o aumento da saciedade. Além disso, elas estimulam a produção de insulina, contribuindo para a regulação da glicose”, explica o médico.
Quem pode usar?
As canetas são indicadas para pessoas com diabetes tipo 2 e pacientes com obesidade, especialmente aqueles com IMC acima de 30. Segundo o endocrinologista, os medicamentos foram inicialmente desenvolvidos para o controle glicêmico, mas o efeito de emagrecimento observado nos testes levou à ampliação dos estudos para tratar também a obesidade.
“As medicações são seguras e eficazes, mas precisam ser usadas com critério. Dependendo da dosagem, podem ser indicadas exclusivamente para o controle da diabetes ou associadas ao tratamento da obesidade”, pontua Krakauer.
Efeitos colaterais e contraindicações
Entre os efeitos adversos mais comuns estão náuseas, vômitos, diarreia, constipação, refluxo e dor abdominal. Em cerca de 15% dos casos, os sintomas são intensos a ponto de exigir a suspensão do tratamento.
Krakauer também alerta para contraindicações: pessoas com problemas renais graves, doenças na vesícula, pancreatite ou gestantes não devem fazer uso dessas medicações sem avaliação médica.
“Como qualquer outro remédio, essas canetas têm riscos. É essencial passar por uma avaliação criteriosa para verificar se há indicação real para o uso”, destaca.
Pode ser usada apenas para emagrecer?
Apesar da popularização nas redes como uma solução rápida para perda de peso, o especialista reforça que essas substâncias devem ser vistas como ferramentas terapêuticas, e não como atalho para emagrecimento.
“Existe uma busca incessante por soluções milagrosas, mas a obesidade é uma doença crônica que exige mudanças estruturais no estilo de vida, alimentação, saúde emocional e prática de atividade física. Não é só sobre perder peso, é sobre manter a saúde a longo prazo”, afirma.
Ele destaca que, com doses maiores de tirzepatida, pacientes obesos chegam a perder entre 20% e 25% do peso corporal, mas o uso indiscriminado por pessoas que desejam perder poucos quilos é perigoso e fora da indicação médica.
A orientação é sempre médica
O recado final do endocrinologista é claro: a automedicação, especialmente com substâncias potentes como essas, pode trazer riscos e mascarar causas importantes do ganho de peso.
“É preciso entender por que aquela pessoa engordou e tratar os fatores envolvidos. Nem sempre a caneta é necessária. Às vezes, há outras opções mais eficazes para cada caso. Por isso, o acompanhamento médico é fundamental”, conclui.