Os impactos psicológicos da violência doméstica

A psicoterapia — individual, de grupo ou familiar — é um dos principais caminhos para reconstruir a autoestima, ressignificar a dor e fortalecer a autonomia emocional da vítima.
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A violência doméstica raramente termina quando cessam os gritos ou as agressões físicas. Seu impacto se estende silenciosamente por anos, marcando a vida das vítimas não apenas com hematomas visíveis, mas com feridas emocionais profundas e duradouras. No Brasil, onde uma mulher é agredida a cada quatro minutos segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), os efeitos psicológicos dessa violência ainda são um desafio subestimado.

A vítima direta, geralmente a mulher, enfrenta consequências graves como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade generalizada, depressão, baixa autoestima e, muitas vezes, dificuldade de estabelecer novos vínculos afetivos. O ciclo de abuso cria um ambiente de tensão contínua, onde a mulher pode passar a se sentir culpada, enfraquecida e sem saída — especialmente quando há filhos envolvidos.

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E os filhos? Eles também são vítimas

Crianças que crescem em ambientes onde a violência é constante sofrem tanto quanto — ou mais — do que os adultos. Mesmo que não sejam agredidas fisicamente, o simples ato de presenciar ou ouvir as agressões afeta diretamente seu desenvolvimento emocional e psicológico. É comum que desenvolvam sintomas como insônia, irritabilidade, dificuldades escolares, agressividade, retraimento e, futuramente, transtornos emocionais mais graves.

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Além disso, há o risco da repetição transgeracional: o que não é tratado pode ser repetido. Meninos que veem seus pais agredirem podem, na vida adulta, reproduzir esse comportamento. Meninas, por outro lado, podem se envolver com parceiros abusivos por acreditarem que isso é “normal” dentro de uma relação.

Foto: Divulgação/Redes Sociais
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Romper esse ciclo exige coragem, apoio e acompanhamento psicológico

A psicoterapia — individual, de grupo ou familiar — é um dos principais caminhos para reconstruir a autoestima, ressignificar a dor e fortalecer a autonomia emocional da vítima. Também é essencial para os filhos, que precisam de espaço seguro para expressar suas emoções e elaborar o trauma.

O acolhimento, o olhar atento da sociedade e políticas públicas efetivas são fundamentais. Quebrar o silêncio não é fácil, mas é o primeiro passo para a cura.

A violência doméstica não é uma questão privada — é uma emergência social e de saúde mental. E cada história resgatada do silêncio é um grito de esperança para muitas outras que ainda precisam de voz.

Por Renato Mota – Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo

Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota - Foto: Arquivo Pessoal
Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota – Foto: Arquivo Pessoal