Saúde mental em risco: o vício em jogos de azar e a ilusão da recompensa

O vício em jogos de azar — também chamado de jogo patológico ou ludopatia — ativa no cérebro o mesmo sistema de recompensa que drogas como cocaína e álcool.
Foto: Divulgação / Redes Sociais
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Com a popularização dos cassinos, apostas esportivas e jogos de azar legalizados, cresce um problema silencioso: o impacto devastador na saúde mental de milhares de brasileiros. Por trás da promessa sedutora de lucro rápido, esconde-se um mecanismo cerebral de recompensa que alimenta um vício perigoso, muitas vezes ignorado pela sociedade e pelo próprio jogador.

O vício em jogos de azar — também chamado de jogo patológico ou ludopatia — ativa no cérebro o mesmo sistema de recompensa que drogas como cocaína e álcool. A liberação de dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer, cria uma sensação de euforia momentânea a cada aposta feita ou prêmio ganho. O problema é que essa sensação é passageira, e o cérebro começa a exigir cada vez mais estímulo para alcançar o mesmo nível de prazer.

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o jogo patológico é classificado como um transtorno mental e comportamental, e estudos apontam que até 5% da população adulta mundial pode apresentar algum grau de dependência de jogos. No Brasil, com o crescimento das casas de apostas e aplicativos de cassino digital, o número de casos em consultórios psicológicos tem aumentado de forma alarmante.

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O ciclo da ilusão e do prejuízo

O principal atrativo dos jogos de azar é a promessa constante de ganho fácil. No entanto, a matemática desses jogos é estruturada para que o jogador perca ao longo do tempo. As “quase-vitórias” — quando o jogador quase ganha, mas não — são estratégias intencionais do sistema para manter a pessoa presa à ilusão de que está perto de conseguir. Isso reforça o comportamento de continuar apostando, mesmo diante de grandes perdas.

Essa compulsão, alimentada por mecanismos neurológicos e estratégias de manipulação do jogo, leva muitos à ruína financeira e emocional. Famílias são destruídas, relacionamentos desfeitos, dívidas se acumulam, e sentimentos como vergonha, culpa e desespero se instalam.

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Consequências emocionais e sociais

O impacto na saúde mental é profundo. Muitos jogadores desenvolvem depressão, ansiedade, crises de pânico e, em casos extremos, pensamentos suicidas. A vergonha de admitir o vício leva ao isolamento, agravando ainda mais o quadro. Para familiares, resta a frustração de lidar com mentiras, dívidas escondidas e a dor de ver um ente querido perder o controle.

Especialistas alertam que o vício em jogos precisa ser tratado como uma questão de saúde pública. A prevenção, o acesso a informação e a regulação dessas plataformas são fundamentais para proteger a população mais vulnerável, sobretudo jovens e pessoas com histórico de transtornos mentais.

Saída e tratamento

A boa notícia é que existe tratamento. A psicoterapia cognitivo-comportamental, combinada ou não com medicamentos, tem se mostrado eficaz na reestruturação dos padrões de pensamento e comportamento dos jogadores compulsivos. Grupos de apoio, como os Jogadores Anônimos, também são recursos importantes na recuperação.

É preciso romper o mito do lucro fácil e encarar os jogos de azar pelo que realmente são: negócios estruturados para lucrar com as perdas do jogador. A conscientização e o acolhimento são os primeiros passos para tirar milhares de pessoas da armadilha da recompensa ilusória e devolver a elas o controle da própria vida.

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