Vivemos numa era em que a produtividade virou sinônimo de valor pessoal. Trabalhar mais, render mais, mostrar resultados — tudo isso passou a ser visto como prova de competência, enquanto o descanso, a pausa e até mesmo a saúde emocional se tornaram quase um “luxo”. Essa lógica, marcada pela chamada cultura da performance, vem deixando rastros de adoecimento em diversas categorias profissionais — especialmente aquelas que carregam, além da responsabilidade técnica, uma carga emocional intensa, como médicos, enfermeiros, professores, psicólogos e profissionais da linha de frente.
O burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, já é considerado um problema de saúde pública. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno é caracterizado por exaustão extrema, sensação de ineficácia, despersonalização (quando o profissional começa a tratar os outros com distanciamento ou frieza) e perda de sentido com o próprio trabalho.
Na área da saúde, por exemplo, médicos e enfermeiros lidam com jornadas exaustivas, plantões ininterruptos, decisões críticas e, muitas vezes, com a dor e a morte. Ao mesmo tempo, enfrentam pressões administrativas, falta de recursos, ambientes sobrecarregados e salários que nem sempre condizem com a entrega emocional e física exigida. O resultado? Crescem os casos de depressão, ansiedade, uso de medicamentos para dormir, automedicação e até ideação suicida entre profissionais da saúde.
Professores, por sua vez, enfrentam um cenário igualmente alarmante. Além das múltiplas funções (dar aula, corrigir provas, fazer relatórios, lidar com pais, com alunos e com a direção), ainda sofrem com a desvalorização, falta de reconhecimento, infraestrutura precária e a sobreposição entre vida pessoal e profissional. Em tempos de aulas remotas e ensino híbrido, o limite entre “casa” e “trabalho” desapareceu, e muitos professores relatam fadiga crônica, ansiedade constante e distúrbios de sono.

A cultura da performance estimula a ideia de que estar sempre ocupado é sinal de sucesso. A consequência disso é o estresse crônico, que se manifesta não só emocionalmente, mas também no corpo: dores musculares constantes, crises de enxaqueca, queda de cabelo, problemas gastrointestinais, palpitações, alteração da pressão arterial, insônia e baixa imunidade.
Estamos pagando caro por uma lógica que valoriza a produtividade acima da saúde. O descanso passou a ser visto como “preguiça” ou “falta de compromisso”, e a autocobrança virou rotina. “Se eu parar, alguém me ultrapassa”. “Não posso demonstrar fraqueza”. “Ainda não fiz o suficiente”. Esses pensamentos, repetidos diariamente, corroem a saúde mental silenciosamente.
Para reverter esse cenário, é urgente normalizar o cuidado com a saúde emocional no ambiente de trabalho. Criar espaços de escuta, investir em prevenção, garantir jornadas mais equilibradas e promover pausas reais são passos essenciais. Também é fundamental reeducar a sociedade para que entenda que descansar não é perder tempo — é garantir continuidade.
Nenhum ser humano foi feito para funcionar como uma máquina. E, diferente das máquinas, nós sentimos. Esgotamos. Adoecemos. Precisamos parar.
A verdadeira produtividade não está em nunca parar, mas em saber reconhecer quando é hora de respirar.
