“Da nascente à foz”: travessia do Rio Salinas

Rio Salinas - Foto: Site Minas Gerais / Divulgação
Rio Salinas - Foto: Site Minas Gerais / Divulgação

Começo está coluna com versos sobre o Rio Salinas:

“Se chorasse agora,
de tantas lágrimas de dor da saudade,
encheria o Rio Salinas de água salgada”.

(Milton Santiago)

O Rio Salinas inicia sua caminhada lá pelas bandas de Montes Clarinhos.

Vence seu primeiro trecho que a jornada lhe impõe e chega até a grande barragem que o pereniza.

Desce caudaloso, soberano e chega até Salinas.

Aí começa seu grande sofrimento…

Aqui suas águas são poluídas, suas margens invadidas e degradadas, sofre todo tipo de agressão.

Enchente do Rio Salinas, em 2021 - Foto: Milton Santiago / Arquivo Pessoal
Enchente do Rio Salinas, em 2021 – Foto: Milton Santiago / Arquivo Pessoal

O salinense sensível chora, luta, sofre e vive a saudade do poço das negras, landim, as enchentes e seus espetáculos…

Mesmo assim, o Rio Salinas segue sua trajetória para o mar , passando por Rubelita, Coronel Murta, até desaguar no Jequitinhonha.

Viagem que se repete todos os dias, ele vai descendo, descendo e levando vida e esperança para toda a população ribeirinha, por onde passa.

Mesmo frágil, ele pede: “cuidem-se de mim!!!”

Vou relembrar aqui de um episódio de quando eu fazia o curso de assistente social em uma faculdade e, tive de fazer um trabalho sobre o Rio Salinas, da “nascenete à foz”.

Fui visitar o rio para ver o que já era uma preocupação central de uma disciplina do curso, no âmbito da questão ambiental.

O trabalho era sobre o meio ambiente e as palavras-chaves que estudávamos, eram: “as mudanças climáticas”.

Foram trágicas as cheias que aconteceram no ano de 2021 e que levaram uma parte da passarela que fora construída naquele local.

Durante a administração do PT, que começou em 2004, eu já alertava sobre a necessidade de desassorear o leito do rio.

Barragem de Salinas que pereniza o Rio Salinas - Foto: Milton Santiago / Arquivo Pessoal
Barragem de Salinas que pereniza o Rio Salinas – Foto: Milton Santiago / Arquivo Pessoal

Naquele contato que tive com setores ligados ao meio ambiente, queria mostrar para os funcionários, que olhassem para o rio não como uma coisa, como tinha sido olhado, até então.

Mas, que olhasse para o Rio Salinas como um componente da geografia, e percebessem o rio como uma entidade viva, como uma criatura que não existe apenas entre duas margens, entre a nascente e a foz, mas um ser vivo de história e de memória, que auxilia e sustenta milhares de pessoas que vivem às suas margens.

E, támbem partilhassem do Rio Salinas com uma visão que ele faz parte da vida de todos os salinenses.

Essa preocupação ficou clara durante a “Romaria das Águas e da Terra”, que aconteceu em Salinas, em 2002.

As pessoas que contatamos ao longo das margens, ainda o chamavam pelo seu nome indígena antigo, por “Rio Grande”, já que ali moravam os nativos, antes da chegada dos portugueses. Rio Grande quer dizer: “o rio de grandes enchentes”.

Romaria das águas e da terra: 2002 - Foto: Milton Santiago / Arquivo Pessoal
Romaria das águas e da terra: 2002 – Foto: Milton Santiago / Arquivo Pessoal

Para além dessa dimensão poética que me encantou, também há aqui no rio uma sabedoria sedimentada, uma percepção que foi construída ao longo do tempo, desse comportamento sazonal de um rio, de enchentes e secas, como está agora.

É assim que o rio nasceu, é assim que o rio vive, com esta periodicidade de inundações…foi assim que construíu este imenso vale.

Portanto, o assunto das alterações do rio tem de ser visto como algo que não é completamente novo. Não estamos descobrindo uma coisa que era completamente ignorada.

Essas pessoas tinham essa percepção, construíram todo o seu convívio com esta sazonalidade.

Há uma sabedoria que está viva, como está viva a língua dessa região, desse povo indígena.

Depois da destruição da passarela e pontes da cidade de Salinas, as pessoas perceberam que estão perante a aproximação de um evento diferente: da mudança climática.

Rio Salinas - Foto: Site Minas Gerais / Divulgação
Rio Salinas – Foto: Site Minas Gerais / Divulgação