O Gigante tem os pés de barro

Soberba da situação e mérito da oposição fazem o gigante tombar em Matias Cardoso

Os valores intangíveis fazem parte do balcão de negócios das atividades econômicas, e, as companhias já se atentaram à situação. Na gestão pública, que passa pelo mundo político, alguns militantes ainda não se reconfiguraram a essas cruciais diretrizes.

Exemplo emblemático vem do pleito eleitoral do município de Matias Cardoso.

A disputa interna, entre o próprio grupo que comanda a política municipal a quase doze anos, escancarou soberba, sobrou orgulho excessivo e a arrogância – adjetivos que não são bons conselheiros, e que podem levar os praticantes a decisões equivocadas, além de afastá-los da sabedoria e da humildade, elementos necessários para tomar boas escolhas. O atual prefeito e o ex-prefeito entraram num embate bisonho: o ex-prefeito que comandou o município por oito anos, se achou no direito de retomar à prefeitura, pois teria elegido o atual prefeito que cumpre o seu primeiro mandato, este bateu o pé e não abriu mão. Ao final, o atual prefeito figurou na cabeça de chapa e o ex-prefeito abraçou a vice. No entanto, a incivilidade ganhou proporção, chegando aos rincões de todo o município, ouriçando toda a população.

A soberba geralmente ofusca a capacidade de refletir com clareza e aprender com conselhos de outros. Ela alimenta a autossuficiência, e resulta em atitudes impulsivas ou prejudiciais. Em diversas tradições filosóficas e religiosas, como no cristianismo, a soberba é considerada um dos pecados capitais exatamente porque impede o autoconhecimento e a evolução pessoal.

A disputa pela cabeça de chapa ignorou todas as variáveis possíveis, e lembra uma frase histórica do futebol nacional: “já combinou com os russos?” do técnico de futebol brasileiro Manoel de Oliveira, mais conhecido como “Manoelzinho”. Ele teria externado essa célebre expressão, durante uma conversa com o treinador brasileiro Yustrich, que estava fazendo planos ambiciosos para vencer a seleção da União Soviética. Manoelzinho, de forma irônica, quis lembrar que não adianta fazer grandes planos sem considerar o adversário, sublinhando a importância de reconhecer e se preparar para a resistência do oponente. Em qualquer planejamento, é prudente considerar as variáveis externas e o papel dos outros envolvidos no processo, especialmente em situações de confronto ou competição.

Com visão de águia o opositor fez bem a leitura e percebeu: “O gigante tem os pés de barro”, isto é, sugere que algo ou alguém que parece poderoso ou imponente tem uma fraqueza oculta, que pode levar à sua queda ou vulnerabilidade. Isso vem de uma passagem bíblica (Livro de Daniel), onde uma estátua com uma cabeça de ouro e pés de barro é usada para simbolizar a fragilidade de “imortais” que, embora aparentemente invencíveis, têm bases instáveis.

O oponente, apurou a vista e conseguiu enxergar que o eleitor é o dono da marca – município, o que reflete a ideia de que as percepções, preferências e lealdades dos eleitores são fundamentais para o sucesso de um grupo político. Embora um grupo crie e promova suas propostas, mas é o eleitor quem define seu valor no pleito eleitoral.

Por outro giro, o comportamento e atitude de um grupo político influenciam diretamente na reputação de seu projeto, determinando se ele terá sucesso ou não.

Sobretudo, hoje, com o advento das redes sociais, os consumidores/eleitores têm mais voz do que nunca. Eles podem facilmente compartilhar suas opiniões e experiências, moldando a percepção pública de uma marca, no nosso caso de um grupo político. Nesse sentido, o poder de influência do consumidor/eleitor sobre uma marca/político é enorme, reforçando a ideia de que ele “possui” a marca ao ditar seu destino no mercado ou nas urnas. Uma marca/político que não consegue se entender internamente se torna duvidoso e perde relevância, independentemente dos esforços de marketing ou branding que a político/empresa faça.