Conexão com o Cerrado

Trago uma coleção de memórias e historias e ainda surpreendo quando deixo-me encantar com minha infância.

Brincava no quintal, observava insetos, ouvia os pássaros, sentia o vento, ouvia os sons das plantas balançarem, observava sol, a lua, percebia a passagem do tempo, plantava, brincava nas poças de água e compartilhava tudo isso com meus irmãos e amigos e ouvia lindas histórias.

Criança se diverte em rio do Cerrado Foto: Divulgação / Redes Sociais

Minha casa era numa vereda e ao mesmo tempo infinita.

Ainda criança acendeu este lugar mágico dentro de mim.

E é sobre este universo que escrevo hoje.

Ouvia ainda criança nos engenhos e nas tendas de fazer farinha, através dos contadores de histórias que muito antes do colonizador português, os povos indígenas já eram íntimos dessas terras.

O conhecimento que vem do horizonte do tempo, preservado pelos cerradenses, nos revela que cada povo tem sua cultura, de forma muito singular.

Paisagem do Cerrado – Foto: Divulgação/Redes Sociais

É o contador de historias do Cerrado que nunca deixa de surpreender.

Nesta coluna, foco neste que é um dos meus mais recorrentes e adorados assuntos: o valor das histórias na infância.

Quando criança, ouvia dos meus pais histórias e há aqui uma recriação, e nesse momento, eu me torno também criador.

Escutava essa oralidade que hoje transfiro para a palavra escrita.

Havia ali nos engenhos e nas tendas, após o trabalho, aquelas rodas de conversas ao redor das fogueiras, enquanto comia carne e tomava uma cachacinha, essa tentação de contar histórias…e eu vivia nesse ambiente de histórias.

Hoje eu sofro desse mal da saudade, então tenho que recontar e vou reinventando, relembrando as coisas que deixei lá atrás, mas que estão vivas dentro de mim.

Foto: Redes Sociais / Divulgação

As primeiras grandes viagens que fiz foram por meio da escuta dessas narrativas.

Chegou o momento que achei que era hora de transpor essa oralidade para a escrita. Elas estão tão vivas dentro de mim e têm tanta força, que pedem que eu as leve para o leitor.

Os moradores do Cerrado conhecem bem essas histórias.

A referência é a “Vila dos Contadores de Histórias”, que falo de um lugar de veredas, nascentes, planaltos, planícies e vales com paisagens surpreendentes, cujo encantamento ainda é fértil na imaginação deste contador de historias e foi eternizado neste livro.