As nossas estradas já tiveram a timidez dos caminhos dos tropeiros, a suavidade nas curvas, a travessia dos rios e o encanto das pousadas.
A partir de 1943 a travessia pelos caminhos do cerrado norte mineiro foi pelos primeiros caminhões.
Em 1989 a estrada foi asfaltada.
“Agora, o asfalto toma posse da paisagem,
as cidades se estendem as suas margens,
milhares de carros fazem viagem,
o sonho da duplicação é uma miragem (…)”
Bem que meu pai, que foi tropeiro neste trecho onde hoje é a BR 251 me dizia: gosto da estrada poeirenta, mesmo que ela suja meus sonhos.
E, eu… eu sempre gostei de poeira, porque me traz ilusão dos caminhos que não morrem gente. Parafraseando Mia Couto.
Escrevo sobre o perigo de viajar pela BR-251, e eu imagino quantas dores, de quem perdeu entes queridos e amores. Eu só sei escrever poeticamente, mesmo falando de dor.
“Na minha terra
há um estradão,
de tão cumprida
que atravessa o Brasil.
Parece que não foi construída.
Simplesmente, inventada para matar.
Estrada tão longa
que parece não ter fim.
É uma estrada
por onde vai e não sabe se volta.
Uma estrada
feita de curvas perigosa, desumana e toda torta”.
Lembro aqui do parágrafo do livro de Mia Couto: “Terra sonâmbula”, no capítulo que leva o nome de “A estrada morta”.
Basta trocar a palavra “guerra” por “acidentes”, para que o leitor tenha a real dimensão da tragédia:
“Naquele lugar, o acidente tinha morto a estrada. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas. Eram cores sujas de sangue, tão sujas que tinham perdido toda a alegria, esquecidas da ousadia de levantar olhos para o azul do céu. Aqui, a vida se torna impossível. E os viajantes parecem que acostumaram a morrer em resignada aprendizagem da morte”.