Coluna Sal da Terra: saber onde quer chegar é tão importante quanto a TRAVESSIA

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Parafraseando Mia Couto, digo que muitas vezes começo a escrever e sei qual será exatamente o rumo de minhas histórias.

Meus personagens me guiam pelos caminhos e destino da escrita.

Também acredito no papel do leitor como coautor do que escrevo: “Só faz sentido quando o leitor toma posse das minhas colunas”.

Já lembrando a filosofia do cerrado, uma das primeiras coisas que escutei ainda criança foi essa expressão: “pato novo não mergulha fundo”.

Aí veio na mente do poeta uma outra metáfora: cavalo novo não aguenta fazer “travessia” pelo cerrado, já que requer ousadia, criatividade e coragem para ir “mais longe”.

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Por isso prefiro o cavalo velho e experiente para fazer a travessia pelo cerrado.

Se Marx estivesse aqui diante de mim, iria questionar uma frase lida em algum livro e cujo autor já não me lembro: “A filosofia abre muitas portas, atrás das quais nada se encontra.”

Digo que parafrasear é elaborar um texto com base em outro já existente e conhecido pelos leitores, mantendo a ideia do texto original. Isso quer dizer que parafrasear é um tipo de intertextualidade.

Parafrasear significa: “interpretar um texto com palavras próprias, mantendo seu sentido original.

Acrescento que é algo íntimo, é como preparar uma receita, por mais que você prepare o alimento para muitas pessoas, é colocar um pouco de si mesmo em cada porção dos que se alimentam com o seu preparo, é a magia pura das suas emoções sendo digeridas por outras bocas.

Trago heranças herdadas do cerrado com raízes profundas em terras nunca antes tocadas por pés de gente letrada.

É que até hoje mantenho um olhar de encantamento e da minha infância. Ainda vejo o mundo como algo de um olhar de poeta.

Se meus mestres não tinham o saber acadêmico, tinham uma enorme sabedoria.

Certa noite, em sua casa numa vereda no meio do cerrado onde então residia, quando conversávamos sobre experiência o velho Semeão saiu com esta frase: “cavalo novo não faz travessia pelo cerrado”.

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Frase usada para sugerir cautela, talvez caberia a esta criança que é melhor viajar em cavalo mais velho, experiente.

É que no cerrado enfrentamos as condições geográficas adversas: morros, montes, desfiladeiros perigosos, pântanos, lamaçais e veredas até o destino.

Sempre apliquei essas táticas na minha escrita e tive a habilidade de alcançar a chegada, mudando e adaptando-me de acordo com as circunstâncias, isso que chamo de genialidade e criatividade.

Porque se ele for de galope em um território que ainda não conhece, é possível não sobrar fôlego suficiente para vencer as barreiras do cerrado.

Por isso, vai no vilajeiro para poder se familiarizar com o local e assim, ir aumentando os passos.

Nessa hora, sua “ficha caí” e você percebe na simplicidade daquela abordagem a sabedoria que não está nos livros.

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