Violência psicológica contra mulher dispara no Brasil; saiba como identificar e denunciar

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O registro de casos de violência psicológica no Brasil teve um aumento significativo: foram mais de 76 mil denúncias no 1º semestre deste ano, quase 60% a mais do que no mesmo período de 2023, segundo o Ministério dos Direitos Humanos.

Em geral, associa-se a violência contra mulher à agressão física, mas a psicológica está presente em todos os tipos de violência contra a mulher, que podem também ser sexual, moral (que envolve xingamentos) ou patrimonial, quando o homem impede a autonomia financeira da mulher.

Muitas vezes, é difícil para a vítima entender a violência psicológica como um problema.

A psiquiatra Flavia Ismael ressalta que a mulher que sofre violência psicológica pode, de fato, adoecer e desenvolver um quadro depressivo e ansioso. Além disso, proteger as mulheres contra a violência psicológica também é uma forma de proteger seus filhos.

“Isso também evita que elas, as crianças, adoeçam na vida adulta e perpetuem a violência quando forem maiores”, ressalta.

De acordo com Valéria Scarance, promotora de enfrentamento à violência contra a mulher, a violência psicológica é um crime previsto em lei desde 2021, e a responsabilização não significa necessariamente prisão, mas pode garantir a proteção da mulher.

Além disso, segundo ela, as medidas protetivas estatisticamente libertam a mulher da situação de violência e impedem a progressão de comportamentos violentos.

Como funciona a manipulação em uma violência psicológica?

Apesar de ser a mais comum, às vezes ela não é compreendida com facilidade, “já que nem sempre é agressiva e, sim, opera manipulando, humilhando e constrangendo”, explica a advogada constitucionalista Luana Ãltran.

“Mesmo que o companheiro chegue dizendo que é para proteger, que se preocupa, isso pode estar disfarçando uma forma de violar a autonomia da mulher”, afirma.

Os sintomas desse tipo de abuso podem vir com vigilância constante da/o parceira/o, violação da intimidade (ou seja, quando você deixa de fazer escolhas por vontade própria), além de ameaças e constrangimentos, que acabam sendo mais explícitos. Em todos os outros casos da violência, no entanto, há algum tipo de manipulação por parte do agressor.

Segundo a advogada, existem dois tipos principais de manipulação por parte dos homens:

Afeto – Utiliza o sentimento para controlar comportamentos e atitudes: “se você fizer isso, significa que não me ama”.

Costumes sociais e crenças religiosas – Usar a religião para o controle de comportamento ou para exigir que só fique à disposição dos filhos e da família.

“Muitas vezes as pessoas dizem que enxergam as mulheres como seres humanos de direito, mas, na prática, agem como se ela fosse uma coisa feita somente para servir: o homem, os filhos, a família e etc”, ressalta.

A violência pode acontecer e acabar?

A violência tem um ciclo considerado universal. Segundo a psicanalista Vera Cristina, esse ciclo de manipulação tem três pilares: a tensão, a prática da violência em si e a reconciliação.

A tensão pode aparecer por violências verbais, humilhações; depois vem a violência, seja ela qual for; e depois a tentativa de reconciliação, a chamada ‘lua de mel’, em que a pessoa tóxica faz de tudo para ter uma reaproximação e, na sequência, repete o ciclo.

O que fazer se for vítima?

As mulheres podem solicitar medida protetiva indo até a Delegacia da Mulher ou a qualquer delegacia de polícia mais próxima. Ela pode ser solicitada em casos de violências psicológica, sexual, física, moral ou patrimonial.

Além disso, outras ferramentas jurídicas são o próprio divórcio e processar a/o agressor/a. Desde 2021, a violência psicológica contra mulheres é tipificada como crime no Brasil, com pena de 6 meses a 2 anos de reclusão e multa.

A especialista recomenda reunir prints de conversas, áudios e gravações como provas em um possível caso de violência.

[Com informações de SBT News]