Coluna Sal da Terra: “Viver é muito perigoso”

Guimarães Rosa é um escritor mineiro nascido em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo. Foto: Divulgação

Como se eu estivesse no meio do Sertão, ouvindo Riobaldo, protagonista criado por Guimarães Rosa para contar as histórias do seu livro Grande Sertão: Veredas, que se misturam com outras tantas do meu Cerrado e da Savana, de Mia Couto.

Eu, que nasci e criei no Cerrado sei que a Travessia é perigosa, mas, é a vida. E, o pé de pequi é o símbolo da vitória da luta da vida contra a seca.

Sua obra mais famosa é o romance Grande sertão: veredas, publicado em 1956. Foto: Divulgação

Outra coisa, que Rosa aprendeu no Sertão com os jagunços: “…É junto dos bão que a gente fica mió (…)”. A trajetória dos jagunços pelo sertão mineiro evoca universos distintos dentro da poética impecável da literatura brasileira.

“Viver é muito perigoso” e “Junto dos bão que a gente fica mió”, nunca me causou espanto, porque vivi desde o nascimento no meio do cerrado, então posso acrescentar: intonce, isturdia, Doncêé?, Oncêmora?, Que qui cê faz? Doncôvim? Oncotô? Oncovô?

O regionalismo também é uma marca das obras do autor, que morreu em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

Além de analisar as metáforas e inovações linguísticas presentes na linguagem de nós escritores. A intenção principal desta comunicação é observar de que modo a literatura reflete, acerca de diferentes formas de modos de vidas, levando os leitores à questionamentos críticos, tanto do ponto de vista social, quanto existencial.

Guimarães Rosa se inspirou na fala do homem simples do sertão, de quem sempre esteve próximo. Em uma viagem de dez dias pelo sertão mineiro, Rosa percorreu 240 quilômetros, conduzindo uma boiada e anotando expressões, casos e histórias para, posteriormente, recriar o sertão de forma literária. Em suas mais de 600 páginas, o livro é recheado de frases que ficaram marcadas na história.

Guimarães Rosa, durante sua viagem pelo sertão, em 1952. Foto: Arquivo Pessoal

E, o mais curioso, é que as frases e palavras atribuídas à minha obra, como: intonce, isturdia, Doncêé?, Oncêmora?, Que qui cê faz? Doncôvim? Oncotô? Oncovô? — De onde eu vim, onde estou, para onde vou? Prônóstâm’íno?; na realidade não consta nas páginas escritas pelo autor mineiro, que faz parte do nosso universo, e comunica com a alma do povo desse universo colonizado por europeus.

Listo, aqui, outra frase do livro que se tornou bastante conhecida, e carrega mensagens profundas: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é CORAGEM”.

Também foi médico, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras. Seu primeiro livro de contos — Sagarana — foi publicado em 1946. Foto: Divulgação

E, para embrulhar mais ainda no cerrado, vem a língua portuguesa: rica e fascinante! Fonte constante de dúvidas para muitos brasileiros.

Entre as diversas questões que surgem no dia a dia, a utilização correta de plurais, coletivos, concordância verbal e nominal, além de regras de acentuação e ortografia, são algumas das mais desafiadoras para nós, do Cerrado.

Milotn Santiago