Se não sabe, leia este texto até o final para compreendê-la.
Numa ilustração compartilhada à exaustão na internet, aquele que, talvez seja o símbolo máximo do Brasil, aparece vestido como personagem do romance “O Conto da Aia”, escrito pela canadense Margaret Atwood, em 1985. O Cristo Redentor veste túnica vermelha e chapéu branco, que é a mistura de cabresto com o visual das colonas protestantes americanas.
No livro de Margaret, transformado em série em 2017, as mulheres são vítimas em sociedade misógina distópica chamada Gilead, que as divide entre férteis e inférteis. Nesta série, mulheres e meninas são submetidas a sistema brutal, em que servem como “aias”. As férteis se tornam parideiras e dão à luz compulsoriamente a bebês, frutos de estupros. Estes bebês serão filhos de famílias dominantes.
Esse sistema inclui estupros rituais como parte de prática religiosa distorcida, em que a autonomia sobre o próprio corpo é completamente negada. Gilead é sociedade baseada em interpretações extremas de valores religiosos cristãos, em que a lei é fundamentada em preceitos religiosos e as punições são severas para quem as desobedece. O lema da nação, no livro, é Deus abençoe o fruto.
Dessa maneira, não foi difícil associar a série ao conteúdo do (e, não, da, porque é projeto de lei) PL Antiaborto (junto, sem hífen) por Estupro, que surge na esteira de bateria de investidas antiaborto no Brasil, que absurdamente quer criminalizar crianças estupradas, comparando-as todas com homicidas. Sim, este PL está em trâmite no Congresso, sendo votado em caráter de urgência. Acredite se puder!
Seria somente ficção, se se preocupassem com os reais problemas deste nosso Brasil, solucionando-os; e, se se lembrassem de que o Estado é laico. Afinal, limitar o aborto a casos específicos é assassinato judicial.