Quando eu escrevo e falo sobre contação de histórias, é comum que se pensar em crianças e colocá-las para dormir.
Mas, para Regina Machado, professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, contar histórias é uma forma de compartilhar conhecimentos que as pessoas podem utilizar para dar sentido ao mundo, ao cotidiano e às suas próprias vidas.
“A arte de contar histórias existe desde que o mundo é mundo, em todas as culturas”.
Em cada cultura, em cada momento, essa arte ocupa um lugar e tem uma função preponderante.
Do meu ponto de vista, esse lugar é aquele que faz as pessoas lembrarem daquilo que é o sentido da vida: por que é importante viver, quais são os significados que estão por trás desse mundo aí, de todo dia, que a gente vive”, diz a docente, que há décadas pesquisa as tradições orais no contexto da arte-educação
Para mim, ainda hoje é preciso manter um olhar de encantamento e de infância com as histórias e com a vida.
Sobre meu processo de criação, às vezes algo simples como uma fala ou um olhar, que aparentemente não tem história, pode funcionar como uma história a desenvolver.
Escrevo todos os dias.
E você que lê esta coluna, tem lido histórias e contado histórias para seus filhos, para as crianças?
Histórias de sua família, de sua vida, de seus livros favoritos?
Esse universo da escrita e das histórias me atrai e é um grande prazer escrever sobre isso.
É bom falar sobre a importância das narrativas nas vidas das crianças, e tem alguém capaz de discutir a arte da contação e da escuta com a poesia necessária para esta bela tarefa: Mia Couto.
Nesta coluna vou recorrer a Mia Couto, e vou focar neste que como ele é um dos meus mais recorrentes e adorados assuntos, o valor das histórias na infância: “quando a criança pede ao pai, à mãe ou a alguém que lhe conte uma história, ela nunca é exatamente repetida.
Há ali uma recriação e a criança percebe que esse momento a torna também criadora.
Sou herdeiro dessa tradição oral.
Comecei a escutar essa oralidade de tantas histórias que transponho para a palavra escrita em casa, nos engenhos e nas tendas de fazer farinha.
Havia ali essa tentação de escutar e vivia-se em um ambiente de histórias.
Meus pais, e meus familiares e moradores nas fazendas eram contadores de histórias.
Minha mãe tinha muita saudade da Bahia onde nasceu e viveu até 16 anos quando casou com meu pai, ele com 47 anos, viúvo e com 16 filhos, tinha saudade da sua infância, então tinha que lembrar sempre do lugar que deixou.
Minha mãe era uma contadora de histórias que transformava o banal em algo extraordinário.
Era através dessas histórias que ela fazia o regresso à sua infância.
Ali em casa ela contava histórias fascinantes.
As primeiras grandes viagens que fiz foram através das histórias por meio da escuta dessa narração.
Quando eu achei que era hora de transpor essas vozes para a escrita foi na escola, num momento em que eu, já adolescente fui tentado a escrever as histórias que escutava.
Essas histórias estavam tão vivas, tinham tanta força, que pediam que fossem transportadas dessa oralidade para a escrita.