O Ministério da Saúde confirmou, nesse domingo (21), o primeiro caso de cólera autóctone (que teve origem no local onde ocorreu o diagnóstico), dos últimos 18 anos no Brasil. A doença havia sido registrada pela última vez em 2005.
O infectologista Cristiano Galvão, da Oncoclínicas, explica que a cólera é uma doença bacteriana, transmitida principalmente por água e alimentos contaminados. A doença é causada por uma toxina liberada pela bactéria Vibrio cholerae. A substância se liga às paredes intestinais, alterando o fluxo de sódio e cloreto do organismo, o que faz com que o corpo libere grandes quantidades de água em forma de diarreia e vômito.
“(A cólera) causa uma alteração na absorção do intestino. Inicialmente ela aparece como uma diarreia leve e vai até casos de diarreias graves, que podem causar uma desidratação que exige internação hospitalar, até com chance de óbito. Então, a cólera é uma doença que tem o potencial de gravidade grande e está relacionada a questão do saneamento básico”, afirma o especialista.
O médico comenta que apesar da cólera ter voltado a ser registrada no Brasil, não há risco iminente de surto. “Gera uma preocupação porque a gente já estava há um tempo sem ter casos de cólera confirmados. Com esse primeiro caso, realmente acende o alerta para focarmos na questão do saneamento básico. Mas é muito precoce falar em risco de surto. Isso serve para a gente ficar atento e tentar identificar como aconteceu a contaminação para impedir que a doença se alastre”, afirma.
Transmissão
Segundo o Ministério da Saúde, a transmissão da cólera acontece pela via fecal-oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados, ou pela contaminação pessoa a pessoa. Os alimentos podem ser contaminados ainda na fase de produção ou quando já estão prontos.
Confira condições que facilitam a infecção:
- Condições precárias de saneamento básico;
- Consumo de água sem tratamento adequado;
- Condições precárias de higiene pessoal;
- Consumo de alimentos sem higienização ou manipulação adequadas;
- Consumo de peixes e mariscos crus ou mal cozidos.
Principais sintomas
A maior parte das pessoas infectadas pela cólera não apresenta sintomas. Mesmo sem sintomas, os infectados continuam transmitindo a doença. Quando há sintomas, os mais comuns são diarreia e vômito, que podem ter diferentes intensidades.
Segundo Galvão, os principais sintomas da cólera são:
- Diarreia (que pode ser leve ou grave, com perda importante de água);
- Náuseas e vômitos;
- Febre baixa;
- Cólicas abdominais;
- Desidratação;
- Queda de pressão arterial;
- Pele seca
O Ministério da Saúde afirma que, nos casos graves, mais típicos, o início é súbito. O paciente apresenta diarreia aquosa, abundante, de difícil controle e com inúmeros episódios diários. Nessa situação, o infectado chega a perder de 1 a 2 litros de água por hora, o que leva a pessoa a um quadro de desidratação intensa rapidamente.
Possíveis complicações
A pasta ainda alerta para a possibilidade de possíveis complicações da cólera, causadas pelo esgotamento físico do corpo, após um grande volume de diarreia e vômitos. As complicações são mais comuns em pessoas mais vulneráveis, como idosos, diabéticos, desnutridos, portadores do vírus HIV e cardiopatas.
Se não tratada adequadamente, a desidratação pode levar o paciente à deterioração progressiva da circulação, da função renal e do equilíbrio de água e minerais no corpo, causando dano a todos os sistemas do organismo e levando a morte.
As complicações mais comuns são:
- choque hipovolêmico (diminuição da quantidade de sangue circulante no corpo);
- necrose renal;
- fraqueza intestinal;
- queda de potássio no sangue, levando a arritmias cardíacas;
- hipoglicemia, com convulsões e coma em crianças;
- Em gestantes, o choque hipovolêmico pode induzir a ocorrência de aborto e parto prematuro.
Prevenção
O infectologista Cristiano Galvão explica que a prevenção é relacionada ao saneamento básico. “A higienização adequada dos alimentos, o consumo de água tratada, a higienização das mãos e o preparo correto dos alimentos são medidas mais indicadas para a prevenção”, afirma.
Tratamento
O tratamento da cólera é fundamentalmente feito com a reposição de água e sais minerais. Nos casos mais graves, o médico afirma que o paciente deve receber a hidratação por via endovenosa e é indicado o uso de antibióticos.
“A gente tem antibióticos disponíveis para combater a bactéria que vão reduzir o tempo da infecção. Então, esse tratamento é feito geralmente em regime hospitalar através do uso de antibióticos e de hidratação endovenosa”, esclarece Galvão.
Cólera tem vacina
Além de higienizar corretamente os alimentos e beber água tratada, uma outra forma de prevenir a doença é pela vacinação. Porém, os imunizantes só são aplicados em áreas endêmicas, onde existe um número considerável de infecções.
“A vacina é muito eficaz. Ela tem uma ação em torno de 80% a 85% de proteção. Só que é uma vacina em que o efeito diminui muito ao longo do tempo. Então, ela requer uma vacinação frequente, até com períodos mais curtos. Por isso, atualmente é uma vacina indicada para populações onde há um surto de cólera, ou regiões com casos endêmicos e frequentes. Ela não é uma vacina aplicada de rotina em locais onde não tem casos significativos aí da doença”, explica o infectologista.
[Com informações de ITATIAIA]