A sabedoria bíblica nos ensina que: ‘’Há um tempo para cada coisa debaixo do sol, tempo de plantar, de colher, de nascer, de viver e de morrer…”. E, apesar de não termos o domínio do tempo, é necessário viver e conviver com as suas disposições, com tudo que ele nos oferece, sem nos esquecer de que não há relação mais lógica sobre o tempo do que a ideia de plantio: sementes de hoje, frutos de amanhã. Com isso, pergunto-lhe, nobre leitor, tempo é substantivo abstrato ou concreto?
O dicionário Houaiss traz dezessete definições para o substantivo tempo. Talvez a definição que mais se aplicará para nossa conversa de hoje seja esta: tempo é a “duração relativa das coisas que cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro; período contínuo e indefinido no qual os eventos se sucedem”. Logo, tempo é substantivo concreto, porque tem existência própria. Este é o tempo mental, que consiste na maneira de como o cérebro percebe a passagem do tempo.
Claudia Hammond, psicóloga e autora do livro Time Warped: Unlocking the Mysteries of Time Perception (Time Warped: desvendando os mistérios da percepção do tempo), escreveu sobre o sistema cerebral de registro da passagem do tempo, observando que o tempo é flexível e, embora não esteja exatamente claro, certamente leva em conta emoções, expectativas, o quanto suas tarefas exigem de você naquele período e até a temperatura do ambiente, além dos sentidos (eventos auditivos parecem durar mais que eventos visuais).
E ela explica que a maioria das pessoas se lembra muito mais vividamente daquilo que viveu entre os 15 e os 25 anos, e o motivo é simples: geralmente, é nessa época da vida em que temos mais experiências novas, em contraste com os anos seguintes. E coisas novas tendem a ter tratamento especial do tempo mental, que parece perceber episódios assim como mais duradouros. Ou seja: se existe período da sua vida que pareceu particularmente longo, chances são que você tenha tido muitas experiências novas durante aquela época. Portanto, fazer coisas novas cria registros novos no cérebro.
A nossa percepção de tempo é individual, a saber: uma criança percebe o tempo de acordo com sua rotina diária – hora de acordar, de comer, de brincar, de dormir -, aqui o tempo é visto como duração de uma ação, sem continuidade. Já os adolescentes, percebem e administram o tempo como sendo algo difícil, que não está relacionado somente ao excesso de tarefas que este período exige a escola, o inglês, o esporte, a festa, o momento de ajudar os pais, dos fatores comportamentais e do ambiente, mas também da questão do amadurecimento do sistema nervoso central.
Os enamorados, por sua vez, nem precebem o tempo passar de tão envolvidos que estão com seus amantes. Em contrapartida, pergunte ao atleta que perdeu a prova por frações de milésimos de segundos, ou, para entes daquele que perdeu a vida, porque a emergência não chegou a tempo.
É, meus caros leitores, o tempo apesar de ser substantivo concreto, apresenta abstrações que só a individualidade garante. Vivamos este tempo que é só nosso, fazendo o nosso plantio, garantindo a nossa certa colheita.