Certa vez em uma aula de Direito um professor nos contou que durante uma abordagem policial a um infrator que acabara de realizar um roubo, naquela ação o militar se virou ao infrator e disse em voz alta: “cidadão, aqui é a Polícia Militar, não faça movimentos bruscos, largue a arma e caminhe lentamente em minha direção!” A partir daquele momento o autor do crime que até então parecia estar bastante nervoso e resistente, modificou completamente postura, foi preso e conduzido sem maiores dificuldades. Após chegar a delegacia, a imprensa que acompanhava todo o desfecho do episódio fez algumas entrevistas aos policiais e também ao infrator. Entre uma pergunta e outra, o “preso” respondeu que ali viveu uma situação diferente em vida.
Ele que já há mais de quinze anos se encontrava nesse submundo do crime, tinha sido preso algumas vezes, mas não queria voltar a ser preso. Todavia o infrator responde a uma das perguntas da repórter, dizendo que somente se rendeu à Polícia naquela hora porque ocorreu algo inédito, isto é, quando o Militar o abordou, pronunciou uma palavra que o fez refletir, pois até aquele momento nunca ninguém teria chegado ele e o chamado de cidadão. Essa simples palavra o fez se desarmar literalmente de corpo e alma para pensar em dar um rumo diferente a sua existência.
Caro leitor, sobre o contexto acima se ressalta que há uma ocorrência em andamento e que naquele instante o policial-militar em sua expertise se vale de habilidades técnicas para convencer o infrator a se entregar após ter cometido um crime contra o patrimônio. Destaca-se a honrosa e meritória estratégia do oficial de polícia em como lidar em situações de crise e também como persuadir um infrator sem que haja danos físicos ou patrimoniais a quem quer que seja, pois o bem maior envolvido ali, indubitavelmente é a vida. Lado outro gostaríamos de enfatizar que todos nós habitantes dos centros urbanos ou não somos inevitavelmente CIDADÃOS. Esse termo significa segundo o dicionário, “indivíduo que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos por este garantidos e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos.” Nesse entendimento ainda que tenhamos direitos e por eles devemos lutar e reivindicá-los, temos igualmente que nos apresentarmos para cumprirmos nosso papel social em cidadania.
Por conseguinte podemos dizer, por exemplo, que não é raro encontrarmos discussões e desentendimentos acalorados nas vias de trânsito urbano. De outro modo alguns também não sabem e nem se interessam por se colocarem à disposição para auxiliar um pobre mendigo que perambula nas ruas sem o que comer e sem o que vestir; não sabemos por vezes quais são as necessidades do nosso bairro, pois permanecemos fechados em nossas residências, como se de alguma forma o mundo lá fora não existisse.
Sem um gesto de empatia, de procurarmos pelo menos ouvir o outro em suas aflições jamais conseguiremos alcançar a compreensão do ser cidadão. De certo que nessa lida pelo menos prestar a devida atenção, demonstrar que todos nós somos iguais e que habitamos o mesmo planeta e dele usufruiremos juntos. Infelizmente só tendemos a olhar o outro, quando o nosso ego foi atingido, quando estamos em dificuldades, quando estamos sensíveis em razão de perdas ou enfermidades que assolam os que nos são caros. Ser cidadão é muito mais que obrigação e direito. Ser cidadão, sobretudo é ser humano e buscar zelar pelo bem a todos comum.