O alcoolismo é um problema social e de saúde pública. A dependência do álcool é classificada como doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em virtude disso, em 18 de fevereiro é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. A data foi criada para conscientizar a população sobre a importância, conscientização e prevenção da doença. De acordo com o psicólogo clínico, Hugo Soares, este dia serve como um lembrete para a sociedade sobre os danos causados pelo consumo excessivo de álcool e a necessidade de se tomar medidas para prevenir e tratar o alcoolismo.
“Longe de ser tratado verdadeiramente como um problema de saúde pública e como doença, os números demonstram de forma assustadora o crescimento do alcoolismo em nosso país. A ausência de uma campanha sistemática e integrada, em detrimento a campanhas milionárias que mostram o álcool como o estimulante da alegria e da socialização, faz as pessoas entenderem e reconhecerem o álcool como uma substância inocente que não causa dependência ou mesmo como uma droga lícita”, aborda.
O consumo excessivo de álcool tem um impacto significativo na saúde mental e emocional das pessoas. É fundamental compreender como o álcool pode afetar negativamente o bem-estar psicológico, desde aumentar os sentimentos de ansiedade e depressão até prejudicar a capacidade de tomar decisões racionais e lidar com situações estressantes.
O psicólogo alerta que “o álcool, principalmente quando consumido em excesso, degrada severamente tanto a saúde física quanto a saúde mental, pois, ‘se o corpo não vai bem, a saúde mental também não vai bem’, e vice versa. O consumo de álcool prejudica e sobrecarrega o funcionamento do corpo, interferindo no seu metabolismo podendo causar desidratação, prejudicar a função diurética dos rins, causar o acúmulo de gordura, aceleração da pressão arterial, dentre outros”, esclarece, Hugo.
Além disso, o profissional chama a atenção em relação a desorganização do metabolismo, que podem gerar limitações, prejuízos na alimentação e principalmente no sono. “São fatores que interferem diretamente na qualidade da saúde emocional e mental do sujeito: como irritabilidade, lentidão cognitiva, perda de atenção e memória, dificuldade no controle inibitório e decisivo e, por ser uma substância depressora, o álcool pode trazer vários transtornos mentais para o sujeito, como irritabilidade, oscilações de humor, ansiedade, depressão, apatia e até gatilhos para transtornos mais graves como a esquizofrenia”, alerta.
Hugo ressalta que o álcool é “de fácil acesso e liberado praticamente sem nenhuma fiscalização, o álcool vem colocando cada vez mais na berlinda da dependência os grupos de risco como os jovens e adolescentes, pessoas em situação de vulnerabilidade social e pessoas com transtornos psíquicos, levando esses à degradação da saúde e ao isolamento social. Por isso a importância de campanhas pujantes de prevenção e conscientização contra o alcoolismo, para mitigar os graves problemas de saúde provocados pelo consumo e dependência do álcool”, ressalta o psicólogo.
Assim como qualquer outra doença, buscar ajuda profissional é essencial. A terapia cognitivo-comportamental e outras abordagens psicológicas podem contribuir no processo de recuperação do alcoolismo, uma vez que as terapias ajudam os indivíduos a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento prejudiciais relacionados ao consumo de álcool.
“A Terapia Cognitivo Comportamental é a terapia individual mais recomendada no tratamento da dependência de álcool. A TCC trabalha as potencialidades e recursos próprios do paciente, focando no sujeito, não no problema, levando-o a pensamentos mais funcionais sobre si, o mundo e sua existência. Através de técnicas de mudanças cognitivas comportamentais, psicoeducação e prevenção de recaídas, podemos levar o paciente a mitigar ou abandonar o uso do álcool. Importante frisar a importância da intervenção psiquiátrica em casos mais graves, e do trabalho multiprofissional e grupais na busca por uma melhor qualidade de vida desses pacientes”, pontua Hugo Soares.
O profissional destaca ainda que a família e os amigos desempenham um papel crucial no apoio a indivíduos que estão tentando superar o alcoolismo, uma vez que o apoio emocional, compreensão e incentivo são essenciais para ajudar a pessoa a manter-se motivada durante o processo de recuperação e para criar um ambiente de suporte que facilite o sucesso a longo prazo.
“A família e amigos são parte da rede de apoio mais importante e fundamental para o dependente de álcool. Importante entender que o alcoolismo além de doença não é uma característica de ‘ser’ e sim de ‘estar’, ou seja , ninguém nasce alcoólatra, a pessoa está alcoólatra. A pessoa em estado de dependência de álcool sofre muito preconceito e exclusão social e familiar, sendo o cuidado e o acolhimento da família e dos amigos essenciais para fortalecer, motivar e estimular o dependente a aceitar e procurar ajuda profissional”, reforça.
Texto Ana Paula Paixão