A premiada vacina Calixcoca contra dependência química de cocaína e crack, da Universidade Federal da Minas Gerais (UFMG), induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. A novidade na ciência foi votada por médicos de 17 países, superou outras 11 finalistas e garantiu premiação de 500 mil euros.
A vacina induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea e essa ligação transforma a droga numa molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica.
O projeto, testado em animais, passou por etapas pré-clínicas em que foram constatadas “segurança e eficácia para tratamento da dependência de crack e cocaína e prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição às drogas durante a gravidez.”
Apesar do sucesso e resultados alcançados até o momento com a vacina, o coordenador da pesquisa, professor Frederico Garcia, reforça que ela não seria indicada para todas as pessoas de maneira indiscriminada.
“Ela não seria indicada indiscriminadamente para todas as pessoas com transtorno por uso de cocaína. É preciso fazer uma avaliação científica para identificar com precisão como ela funcionaria e para quem, de fato, ela seria eficaz”, alertou.
Por outro lado, o professor ressaltou o compromisso com os pacientes que sofrem com a dependência química. “Sabemos como é difícil ter uma pessoa dependente em casa, como é sofrido para um acometido pela dependência ter que lidar com a ambivalência de usar ou não droga e como é ainda mais difícil para uma gestante dependente proteger seu feto e lidar com a dor da abstinência. Temos essa missão”, finalizou.
Como a vacina funciona
A Calixcoca produz anticorpos anticocaína que impedem a passagem da droga pela barreira protetora do cérebro, evitando que o efeito seja percebido. A conclusão foi baseada em testes feitos em animais e, de acordo com a pesquisa, ela se mostrou segura em pelo menos três espécies de animais.
“Tudo isso prenuncia que ela pode ser útil no tratamento de pessoas com dependências, e, por essa razão, os estudos clínicos que avaliam segurança e eficácia em humanos são imprescindíveis”, explica o professor da Faculdade de Medicina, Frederico Garcia.
“Se a vacina vier a melhorar o prognóstico do tratamento usual para a dependência de cocaína e crack em estudo de fase 2, que bom, seguiremos para a fase 3; se essa etapa for positiva, que bom, pedimos aos órgãos regulatórios para registrar o medicamento.”
A molécula da vacina, a UFMG-V4N2, criada sinteticamente em laboratório, induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Essa ligação transforma a droga em uma molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica, reduzindo os efeitos da droga no organismo.
Mais votada
Mais votada por médicos de 17 países, a Calixcoca superou outras 11 iniciativas inovadoras no campo da saúde desenvolvidas na América Latina, entre as quais a SpiN-Tec, também da UFMG, vacina contra a covid-19 que foi agraciada com 50 mil euros por ser uma das vencedoras na categoria Inovação em terapias.
O coordenador da pesquisa, professor Frederico Garcia, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina, agradeceu à sociedade brasileira que apoiou a campanha.
“Desenvolver ciência na América Latina não é fácil. A UFMG é, hoje, uma universidade que está fazendo a diferença. Só temos a agradecer o apoio da nossa reitora [Sandra Regina Goulart Almeida] e do nosso pró-reitor de Pesquisa [Fernando Reis]”, celebrou.
Investimento
A Calixcoca é financiada pelos governos federal e de Minas Gerais, além de recursos de emendas parlamentares, e para que tenha continuidade depende de mais recursos. No fim de agosto, a reitora Sandra Goulart Almeida e o professor Frederico Garcia apresentaram o projeto da vacina ao ministro Camilo Santana, da Educação, e solicitaram apoio governamental para dar prosseguimento aos testes.
Em julho, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, anunciou, durante visita da ministra Nísia Trindade à UFMG, o aporte de R$ 10 milhões no projeto.
[Com informações de ITATIAIA]