… “é junto dos bão que a gente fica mió”…
Cerque-se de boas pessoas e você será uma pessoa melhor
Há um ditado que afirma que somos a média das cinco pessoas com quem mais convivemos. Seguindo essa lógica, devemos nos cercar de pessoas boas, com atitudes nas quais possamos nos inspirar para nos tornarmos pessoas melhores.
Ao contrário do que muitos pensam, “é junto dos bão que a gente fica mió” não é uma frase que está literalmente escrita no livro “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa mas, sim, uma tradução popular do mineirês característico e repleto de neologismos do livro.
Ao comparar as obras de Milton Santiago, de Guimarães Rosa e de Mia Couto, entendo que Délio queria dizer: – eles não rompem com a tradição oral, trabalhando com a memória viva e com o imaginário popular dessas regiões: sertão, savana e cerrado.
É como ouvisse Délio Pinheiro , dizendo que Milton, Rosa e Mia se voltam para o passado e seus caminhos se cruzam lembrando das lendas, mitos, ritos, provérbios de cada território para criar seus textos.
A partir dessa entrevista fica no imaginário popular, que os três autores captam aspectos de suas realidades regionais: Guimarães focaliza o sertão de Minas, repleto de jagunços, de lendas e leis próprias; Milton focaliza a vida dos descendentes de índios e escravos, pós colonização portuguêsa e Mia Couto, por sua vez, traz para sua prosa os sonhos e as superstições do povo moçambicano, anestesiado pelos anos de guerra e violência. (SECCO, 2008, p.61)
Assim, tanto o cerrado norte mineiro de Milton, o sertão de Rosa e a nação moçambicana de Mia Couto buscam representar regiões, seriam uma espécie de “matéria-prima”, que está na base de toda as suas criações literárias.
Os universos focalizados pelos autores não se constituem apenas de oralidade. Via de regra, as realidades trazem as marcas regionais e, por isso, apresentam uma mistura entre visões de mundo distintas, que estão relacionadas e interagem entre si.
Nós, mineiros e salineiros, temos bastante orgulho do nosso estado e das nossas origens, incluindo aspectos da nossa cultura, como o sotaque e a culinária.
Além disso, temos fama de sermos receptivos, hospitaleiros e amigáveis — mas também um tiquim desconfiados.
Desconfio que vocês desconfiam de mim, uma vez que esse conhecimento entre o oral e o escrito só será possível se o escritor tiver profundo conhecimento da sua cultura e da tradição oral.
Esse saber está alicerçado na experiência adquirida e a arte de contar histórias está interligada à experiência que anda de boca em boca; ela é, a fonte onde beberam os grandes escritores.
Guimarães Rosa confirma:
[…] nós, os homens do sertão, somos contadores de historias por natureza.
Está no nosso sangue narrar histórias, já no berço recebemos esse dom para toda a vida.
Desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos contadores de historias.
Mia Couto também vai buscar na tradição oral moçambicana o repertório para suas narrativas.
Quando o li pela primeira vez Guimarães Rosa e Mia o sol já ia alto, experimentei uma sensação que já tinha sentido quando escutava os contadores de histórias da infância.
Lendo-os, eu não lia simplesmente: eu ouvia vozes da infância.
Sobre Milton, falou Délio, o resto fica por conta do leitor.