“Desde quando fui assentado aqui, nos anos 1990, essa foi a primeira vez que fiz a entrega das embalagens vazias de agrotóxicos”; “Não sabia qual era o procedimento necessário para a entrega, por isso, ia acumulando aqui no depósito”.
Esses depoimentos são de produtores rurais que atuam no entorno da cidade de Jaíba, no Norte do estado, e resumem uma realidade que vinha impactando os empreendimentos com a falta de conhecimento para a destinação correta de embalagens vazias dos produtos. A situação teve fim neste ano, após campanha e ação conjunta do Sindicato dos Produtores Rurais de Jaíba e Matias Cardoso junto ao Sistema Faemg Senar, por meio do Programa de Assistência Técnica e Gerencial – ATeG.
“A ação é de extrema importância para os produtores da região por várias razões, como contribuir para a preservação ambiental, já que o descarte inadequado pode contaminar solos, rios e lençóis freáticos; pelo cumprimento da legislação; pela segurança e saúde dos produtores; pelo favorecimento do ciclo de reciclagem, entre outros”, pontua o presidente do Sindicato Rural, Ciro Souza de Paula.
A ação foi realizada entre os meses de janeiro e julho, junto aos produtores atendidos pelo programa ATeG, totalizando mais de 4.200 embalagens vazias destinadas corretamente na sede da Associação dos Revendedores de Produtos Agropecuários de Jaíba – Asrepaja. Os produtores foram instruídos sobre os procedimentos e locais de destinação nas imediações do Projeto Jaíba, um dos maiores projetos de irrigação da América Latina, e a importância dessa prática ser regular na gestão da propriedade.
Durante as visitas técnicas do ATeG, os produtores foram orientados sobre o tema. A realidade da maioria era de acúmulo de 10 anos sem fazer a entrega, deixando as embalagens na fazenda. Alguns alegaram até mais tempo, de 15 a 20 anos sem a destinação. “Além de ser uma atitude correta com o meio ambiente, descartar as embalagens é previsto em lei. Os defensivos são produtos químicos fortes e que, se mal utilizados, podem representar risco. Por isso, todos os processos que os envolvem precisam ser cercados de cuidados”, explica o técnico de campo do ATeG Fruticultura na cadeia do limão, Willyan Caldeira.
Descarte correto
Para fazer o correto descarte da embalagem, o produtor precisa lavar muito bem os recipientes vazios. Após despejar totalmente o defensivo no pulverizador, o produtor deve adicionar água limpa no frasco, tampar e agitar muito bem. Em seguida, deve-se despejar a água no pulverizador, fazendo uma tríplice lavagem, ou seja, repetindo o mesmo processo por três vezes. Após isso, faça furos grandes ou recorte o fundo da embalagem, para ter a certeza de que ela não será reutilizada. Todas as embalagens devem ser inutilizadas dessa forma.
Após o procedimento, o produtor deve guardar as embalagens vazias em local adequado até o momento do descarte apropriado. No ato de entrega das embalagens vazias é emitido um comprovante. O documento deve ser guardado, pois ele deverá ser apresentado sempre que a propriedade for visitada pela equipe de fiscalização.
Na mesa do consumidor
Um dos principais polos de fruticultura do país, atualmente o Projeto Jaíba conta com pouco mais de 30 mil hectares irrigados, divididos em duas etapas, e a possibilidade de chegar a 60 mil nos próximos anos. Segundo a gerência do Distrito de Irrigação, só em 2021 a produção agrícola na etapa 1 do perímetro irrigado foi superior a 364 milhões de toneladas, com maior tendência à produção de bananas. Neste período foram gerados cerca de 17 mil empregos diretos.
Com essa potencialidade, a preocupação com o descarte correto das embalagens de agrotóxicos também tem impacto direto na mesa do consumidor e no mercado, segundo aponta Ciro Souza. “Este descarte correto também contribui para a imagem e reputação de quem vive do campo. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a origem dos alimentos que consomem e com as práticas ambientais dos produtores. Agricultores que adotam práticas sustentáveis, e o descarte correto das embalagens se insere nisso, garantem uma imagem ainda mais positiva, o que reflete em melhores oportunidades de negócios”, diz o presidente do sindicato.