Coluna Vida em Sociedade: quando a sabedoria fala mais alto

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Por sermos humanos com valiosas imperfeições, todos nós já em algum momento falamos ou fizemos algo que compreendemos que não era a melhor atitude ou a melhor palavra para levar ao outro. Nesse momento, pode ser que ficamos reflexivos, talvez até “travados” sem saber o que fazer em seguida.

Ocorre que o erro faz parte do acerto, quando nossa intenção é apenas acertar. Se algo falhou, quando queríamos acertar, é hora de repensar para fazermos melhor da próxima vez. Há até uma frase atribuída ao pensador romano Terêncio, que nos diz que “quem fala o que quer, ouve o que não quer”.

Nós por diversas vezes pensamos deliberadamente que já conhecemos o outro e por isso podemos agir assim sem medirmos nossas palavras e atitudes.Desse modo, quando agimos com exposição de nós mesmos e com pressão, nessa hora se inicia o nosso amadurecimento emocional.

O melhor a fazer então é buscar o outro e se retratar. Na palavra Bíblica, em Mateus 7:12 nos diz “que devemos fazer ao outro o que queremos que o outro faça a nós”.  Principalmente em momentos de tensão vale a passagem de Provérbios, “até o tolo passa por sábio se ficar calado, e, se controlar suas palavras, parecerá uma pessoa com discernimento”.

O filósofo francês, iluminista, Voltaire, nos instrui que “posso até não concordar com o que dizes, mas defenderei até o morte o teu direito de dizer”. Isto é, podemos ter diferenças de entendimentos, mas essas diferenças não podem gerar distâncias e constrangimentos, mas devem gerar respeito mútuo para que não entremos em contenda.

Para ilustrar o que dissemos acima gostaria de lembrar uma breve história. Havia um oleiro e um poeta que estavam em rixa já há alguns dias e para que o tumulto não se agravasse eles foram levados até a presença do juiz da cidade. O oleiro foi ouvido primeiro, pois estava com os ânimos bastante exaltados e disse ao juiz que quando estava em sua casa, no interior de sua oficina, ouviu um ruído e depois um som de batida bem alto.

Foi até a janela e verificou que um dos seus vasos que acabara de fabricar, estava em pedaços na porta de sua casa. Na verdade o poeta que passava pelo local, lançou com força uma pedra e quebrou a sua obra. O oleiro de forma exigente solicitava ao juiz uma indenização pelo fato ocorrido.

O juiz por sua vez ouviu o poeta que disse que há três dias tentava orientar o oleiro. Esse poeta disse que no primeiro dia ao passar pela casa do oleiro, ouviu que ele estava declamando os versos de sua autoria de maneira equivocada. O poeta o ensinou como deveriam ser pronunciados e declamados aqueles versos.

No segundo dia a mesma cena se repetiu, mas no terceiro dia ao ouvir que o oleiro declamava de maneira deturpada os seus versos, resolveu, indignado, lançar uma pedra sobre a obra do oleiro. Aquele juiz ao ouvir as duas partes, refletiu e voltou ao oleiro e disse-lhe: “você quebrou os versos do poeta por diversas vezes, por isso ele se viu desrespeitado por acreditar que seu direito fora violado e resolveu fazer o mesmo com o seu vaso, com a sua obra”.

O juiz decretou a seguinte sentença: que o oleiro faça um vaso bem feito e alinhado e que o poeta adorne o vaso com seus versos e o leve a leilão. O valor arrecado será dividido entre as duas partes. Depois de algum tempo vários vasos foram vendidos seguindo aquele mesmo princípio de parceria.

O oleiro e o poeta, se tornaram amigos e passaram a se admirarem mutuamente. E os dois foram beneficiados e prosperam juntos. Compreendemos a partir de então que valorizar e respeitar o que o outro é e faz se torna um aprendizado diário para nós. Os dois, o oleiro e o poeta, enquanto permaneceram em discordância tiveram grandes prejuízos, mas quando se juntaram e valorizaram os dons um do outro, foram ricamente beneficiados.

(*) Capitão PM – Comandante da 210ª Cia PM/10º Batalhão.