Universidade Estadual de Montes Claros realiza pesquisa sobre a doença de Chagas

Foto: João Paulo Antonini

Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em parceria com outras instituições, realiza estudos voltados para a melhoria do tratamento da doença de Chagas, além de assegurar a assistência gratuita aos portadores da moléstia. A Unimontes desenvolve as ações de dois projetos de pesquisa, com a realização de testes sobre a eficácia de medicamentos usados no tratamento da doença de Chagas: o Parachute e o Bem Brasil.

Além da participação de pesquisadores de diferentes instituições, os estudos contam com financiamento de órgãos de fomento nacionais e internacionais. As ações envolvem pesquisadores, professores e acadêmicos dos cursos de graduação da área de saúde e do programa de pós-graduação em stricto sensu em ciências da saúde da Universidade, além dos profissionais do Hospital Universitário Clemente de Faria – HU – Unimontes. Na unidade funciona o ambulatório de Chagas da Unimontes.

Projeto Parachute avalia medicamentos

A Unimontes desenvolve o projeto de pesquisa Parachute. Trata-se de um estudo clínico que visa avaliar os efeitos de dois medicamentos usados contra a doença de Chagas. O estudo é financiado pela empresa farmacêutica Novartis, que produz e fornece os medicamentos testados.

O experimento tem como objetivo avaliar o efeito de 200 mg do “medicamento 1” duas vezes ao dia em comparação a 10 mg do “medicamento 2” (também duas vezes ao dia), além do tratamento convencional para insuficiência cardíaca, informa Dardiane Santos Cruz, mestre em ciências da saúde e auxiliar de estudos do Projeto Parachute.

Ela lembra que são oferecidos aos participantes do estudo atendimento clínico especializado e exames laboratoriais de ecocardiograma e eletrocardiograma gratuitamente.

O Projeto Parachute tem como pesquisador principal Israel Molina, infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz, e como subinvestigadores o cardiologista Paulo Emílio Clementino Almeida e o professor Luciano de Freitas Fernandes, do curso de medicina da Unimontes. A professora Ariela Mota Ferreira, doutora em ciências da saúde, vinculada ao departamento de enfermagem da Unimontes, é a responsável pela coordenação e administração do projeto.

O estudo foi iniciado em dezembro de 2022, tendo 128 pacientes já triados e outros 41 cadastrados em fase de tratamento. Os testes com os pacientes sobre os medicamentos terão duração de dois anos. Os primeiros resultados serão divulgados em 2026. O nome Parachute deriva do termo “Patients With Chagas Cardiomiophaty”.

Projeto Bem Brasil

A Universidade Estadual de Montes Claros também implementa o Projeto de Pesquisa Bem Brasil, que tem como objetivo analisar a eficácia do tratamento da doença de Chagas a partir do uso do medicamento BNZ, com doses de 300 mg/dia durante oito semanas, com base na origem geográfica do participante no Brasil. O ensaio clínico será iniciado no segundo semestre de 2023.

O estudo está inserido no Projeto “CUIDA Chagas: Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas – Rumo à eliminação da transmissão congênita da doença de Chagas na América Latina”. A iniciativa é liderada pelo Instituto Nacional de Infectologia (INI) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sendo financiada pela FIND (Aliança Global para Diagnósticos), pela Unitaid (Iniciativa Global da Saúde) e pelo Ministério da Saúde.

Na primeira fase do experimento, serão aplicadas duas medicações pela Fiocruz. A medicação tem fator antiparasitário e serve para parar a evolução da doença como um todo e são as únicas fórmulas disponíveis no mercado brasileiro que tratam especificamente da doença de Chagas.

O projeto é coordenado pelo professor Israel Molina, tendo como subcoordenador o professor Luciano Freitas Fernandes. A pesquisa será desenvolvida até 2025.

Projeto SaMI-Trop e atendimento a portadores de Chagas

A Unimontes está inserida no SaMI-Trop – Projeto Centro – São Paulo – Minas Gerais para tratamento da doença de Chagas. A iniciativa conduz e executa pesquisas com doenças negligenciadas, com foco na doença de Chagas. O grupo é composto por pesquisadores colaboradores de quatro instituições públicas: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São João del Rey (UFSJ) e Universidade Estadual de Montes Claros.
Os estudos são financiados pelo National Institute of Health (Instituto Nacional de Pesquisas em Saúde, dos Estados Unidos).

A rede de pesquisadores do SaMI-Trop é coordenada pela professora Ester Cerdeiro Sabino, da Universidade de São Paulo. O grupo de Montes Claros é coordenado pela professora Ariela Mota Ferreira, do departamento de enfermagem da Unimontes.

Os estudos também contam com a participação das professoras da Unimontes Desirée Sant´Ana Haikal (departamento de odontologia) e Thallyta Maria Vieira (departamento de biologia), juntamente com o professor e médico Infectologista Luciano Freitas Fernandes(do HU-Unimonte), o cardiologista Paulo Emílio Clementino e o doutor Israel Molina (pesquisador da Fiocruz e vinculado ao Hospital da Universidade Vall d’Hebron/Barcelona-ESP), professor convidado do programa de pós-graduação em ciências da saúde da Unimontes.

O SaMI-Trop tem como principal objetivo oferecer um atendimento médico especializado aos portadores da doença de Chagas. O serviço é ofertado no Ambulatório de Chagas da Unimontes, que funciona no Centro Ambulatorial de Especialidades Tancredo Neves (CAETAN) do Hospital Universitário Unimontes. O ambulatório foi implantado pelo SaMi-Trop, com o apoio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros.

O atendimento é realizado às segundas-feiras, ofertando diagnósticos de sorologia na atenção primária. Os casos mais graves são direcionados para atendimento emergencial, no qual são assistidos pacientes com sintomas com acometimento no trato intestinal, no coração e em outros órgãos identificados no diagnóstico, para a medicação e acompanhamento adequado.

“Cerca de 9% da população norte mineira possui a doença de Chagas. Esses pacientes desconhecem sua condição clínica por falta de informação e por propagandas que informam o controle da doença. Nossos estudos foram direcionados em 21 municípios do Norte de Minas, apontando a região como endêmica da enfermidade”, afirma o infectologista Luciano Freitas Fernandes.

[Com informações de Agência Minas]