A microrregião da Serra Geral já teve alguns ciclos de atividades econômicas que puxaram o desenvolvimento, mas muita gente ficou para trás.
Agora, surge o boom da energia fotovoltaica. No entanto, essa nova matriz econômica chegou com algumas características semelhantes ao ciclo do extrativismo da madeira/carvão – alijando empresários, investidores e trabalhadores locais do processo gerencial e de investimento.
Não que devesse ter uma reserva territorial de mercado, mas o Estado poderia muito bem ter realizado um briefing de todos os processos administrativos/legais/fiscais sobre a produção da energia fotovoltaica aos empresários e gestores públicos/faculdades/universidades da região, preparando-os para a nova atividade.
Até porque, pesquisa, tecnologia, aportes financeiros e outros são oriundos do setor público.
À época da madeira/carvão, empresas como a Mannesmann, Cossisa e outras desceram para essa região, montaram escritório, depósito, garagem para frota, movimentando fábulas de dinheiro, mas deixaram um rastro de degradação ambiental fabuloso também e muitos trabalhadores com menos expectativa de vida. Deste ciclo, não ficou por essas terras nem uma fábrica de MDF instalada.
Agora, o Estado trabalha com o Centro de Referência para Áreas Degradadas (CRAD) e outras instituições parceiras para recuperar o solo em muitas partes da região
A energia fotovoltaica deu novo oxigênio à região, trouxe investimentos, gera emprego e renda, movimenta o comércio, sem dúvidas está sendo uma das locomotivas da economia regional, isto é uma verdade.
Daqui para frente é interessante que seja feito um recorte e que seja posto no centro da atenção a iniciativa dos prefeitos, pois os investimentos estão chegando, a energia fotovoltaica é uma realidade. Mas o que está sendo pensado para o norte de Minas para os próximos 20/30 anos? Quais serão as atividades econômicas? Que atividade irá gerar emprego e renda, já que, após a instalação da usina a demanda de mão de obra é baixíssima? Como será a infraestrutura? Quais serão as notícias pertinentes a esse território que veicularão nos meios de comunicação? Em que posição estarão as pessoas? Qual o grau de competitividade dos empresários e da própria administração pública, desta parte do estado? Os impactos ambientais foram verdadeiramente dimensionados, ou a necessidade de se fazer dinheiro aos cofres públicos, provocou vista grossa?
As terras férteis estão sendo protegidas? Pelo que se sabe até mesmo áreas em perímetro irrigado estão sendo tomadas por usina, o que estaria levando a região à contramão, pois a produção de alimento já é uma demanda global e, a médio e longo prazo uma necessidade premente.
Ainda na linha de questionamentos: a cultura de sucessão de lavrar a terra que naturalmente já não é fácil, não vai
quebrar depois de 20/30 anos?
É bom lembrar, gostaria que a verdade não flertasse com a inconveniência, os índices dos municípios da região estão entre os piores do estado – IDH-M, qualidade de valor de mão de obra, incidência da pobreza, que atinge mais de 54% da população.