Hoje começo meu texto para @webterra em versos:
POETA.
… escrevo em português
na sofrida voz dos índios Yanomâmis,
sangro meu coração na Amazônia.
Na floresta,
sou filho,
de povos originários,
hei-de vencer um dia.
CONTADOR DE HISTORIAS.
Manhã de verão acordo e vou as lembranças.
Pretendo apenas visitar o passado.
Dirijo-me aos lugares onde, em menino, eu conversava com os mestres e mestras da minha família.
Aqui está minha Vó Dinha de origem africana e Vó Odilia Pena de origem indígena.
Esquecidas de morrer nas minhas lembrancas. À elas devo a habilidade de contar histórias.
Foram delas que ouvir falar da ancestralidade.
Ali, face ao nada, esperando apenas o tempo, as duas avós teciam a vida com o fio das histórias, esperança e dos sonhos.
Estas fotos me atiram para lembranças antigas.
Sou um mestiço, nasci do cruzamento de varias raças: negro, índio e europeu.
Sou um ser de encruzilhadas, sou dos vales e do sertão, uma região que está em busca do seu próprio retrato.
Eu sou de Salinas, de um caldeirão de culturas.
Essa é a minha voz, uma voz diversa entre mundos, entre a escrita e a oralidade, entre a ciência e a ficção, entre os vales e o sertão.
Sempre convivi com meus avós.
Sempre ouvi uma voz mais antiga, que me chegava em forma de causos, crenças e estórias.
E morava ali e a vida continuava cheia de sonhos e promessas.
Uma das grandes buscas dos meus textos é a minha identidade.
A outra é a memória na tentativa de escrever a minha própria história, tentando desconstruir o valor de historias mal contadas do passado.
Ai dialogo com as várias versões. A única intenção é que a História seja tratada como alguma coisa que tem que ser interrogada, sobre a qual temos que ter dúvidas.
ASSISTENTE SOCIAL.
Como neto de índios e negros que sou, escrevo este texto pra registrar minha indignação sobre o que está acontecendo com os povos indígenas que têm o direito de manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas tradições, costumes e cerimônias espirituais e religiosas; de manter e proteger seus lugares religiosos e culturais e de ter acesso a estes de forma privada; de utilizar e dispor de seus objetos de culto e de obter sua cidadania plena.
A poucos dias a imprensa alertava o mundo inteiro, acerca do genocídio que vitimizam os índios ionamâmis da Amazônia.
Essa mesma preocupação humanitária também foi explicitada em minha coluna que escrevi pra WebTerra todas quintas feiras.