Segundo Andrei Moreira: Cada ser que vive sobre a terra só o faz porque aqueles que o antecederam fizeram o que foi necessário para que a vida passasse adiante.
Cada ser que toma a força da vida e a leva mais além, fazendo valer o sacrifício dos que vieram antes, com respeito e gratidão, move-se para o êxito e realização em um fluxo de amor leve.
Cada geração grata recebe a herança que lhe é ofertada com mais leveza, para levar mais além todo legado dos que vieram antes.
Manhã de verão me levanto e vou as lembranças.
Pretendo apenas visitar o passado.
Dirijo-me aos lugares onde, em menino, eu conversava com os mestres e mestras da minha família.
Aqui está minha Vó Dinha de origem africana e Vó Odilia Pena de origem indígena, meu avô Zé Santiago de origem europeia.
Esquecidas de morrer nas minhas lembrancas. À elas devo a habilidade de contar histórias.
Foram delas que ouvir falar pela primeira vez de ancestralidade.
Ali, face ao nada, esperando apenas o tempo, as duas avós, e meu avô teciam a vida com o fio das histórias, da esperança e dos sonhos.
Estas fotos me atiram para lembranças antigas.
Sou um mestiço, nasci do cruzamento de varias raças: negro, índio e europeu.
Sou um ser de encruzilhadas, sou dos vales e do sertão, uma região que está em busca do seu próprio retrato.
Eu sou de Salinas, de um caldeirão de culturas.
Essa é a minha voz, uma voz diversa entre mundos, entre a escrita e a oralidade, entre a ciência e a ficção, entre os vales e o sertão.
Sempre convivi com meus avós.
Sempre ouvi uma voz mais antiga, que me chegava em forma de causos, crenças e estórias.
E morava ali e a vida continuava cheia de sonhos e promessas.
Uma das grandes buscas dos meus textos é a minha identidade.
A outra é a memória na tentativa de escrever a minha própria história, tentando desconstruir o valor de historias mal contadas do passado.
Ai dialogo com as várias versões. A única intenção é que a História seja tratada como alguma coisa que tem que ser interrogada, sobre a qual temos que ter dúvidas.