Numa iniciativa da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS), do Hospital Universitário Clemente de Faria – (HUCF), administrado pela Universidade Estadual de Montes Claros – (Unimontes) e Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, o Norte de Minas já conta com o funcionamento de um ambulatório especializado no atendimento de pessoas acometidas pela doença de Chagas.
A novidade, instalada no sexto andar do Centro Ambulatorial de Especialidades Tancredo Neves – (Caetan), prédio anexo do HUCF, conta com a participação de médicos infectologistas, residentes e acadêmicos da área da saúde, além de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – (PPGCS) da Unimontes.
O trabalho do Ambulatório foi apresentado na sexta-feira, 4, aos gestores de saúde do Norte de Minas durante reunião da Comissão Intergestores Bipartite do Sistema Único de Saúde – (CIB-SUS), realizada no auditório da Prefeitura de Montes Claros. Durante a apresentação, a referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS Montes Claros, Renata Fiúza Damasceno, salientou a importância dos municípios encaminharem pacientes para atendimento no ambulatório.
Os pacientes já deverão ter diagnóstico positivo para a doença de Chagas, detectado por exame de sorologia. O encaminhamento deverá ser feito pelos médicos que atuam nos serviços municipais de atenção primária à saúde e os atendimentos serão realizados às segundas-feiras.
“Além do acesso ao atendimento ambulatorial especializado, visando evitar que os pacientes evoluam para situações de saúde mais graves nos aspectos cardíacos e digestivos, a proposta de trabalho do Ambulatório é incrementar a pesquisa sobre a doença de Chagas em Minas Gerais, avançando no conhecimento do perfil dos pacientes e viabilizando o acompanhamento deles pelos serviços de atenção primária à saúde”.
Além disso, frisa Renata Fiúza, “o Ambulatório vai investir na capacitação de profissionais de saúde dos municípios, visando agilizar o diagnóstico dos pacientes acometidos pela doença de Chagas, a fim de que os tratamentos sejam iniciados o mais precocemente possível”.
O tratamento dos pacientes seguirá protocolo clínico publicado em 2018 pelo Ministério da Saúde. Os pacientes em situação de saúde mais crítica serão acompanhados pelo Ambulatório, e os demais pelos serviços municipais de atenção primária à saúde.
A doença
Chagas é uma doença transmissível causada por um parasito e transmitida principalmente através do inseto “barbeiro”. O agente causador é um protozoário denominado Trypanosoma cruzi. No homem e nos animais, vive no sangue periférico e nas fibras musculares, especialmente as cardíacas e digestivas.
Os barbeiros abrigam-se em locais muito próximos à fonte de alimento e podem ser encontrados na mata, escondidos em ninhos de pássaros, toca de animais, casca de tronco de árvores, montes de lenha e embaixo de pedras. Nas casas escondem-se nas frestas, buracos das paredes, nas camas, colchões e baús, além de serem encontrados em galinheiro, chiqueiro, paiol, curral e depósitos.
A transmissão da doença se dá pelas fezes que o barbeiro deposita sobre a pele da pessoa, enquanto suga o sangue. Geralmente, a picada provoca coceira e o ato de coçar facilita a penetração do tripanossomo pelo local da picada. O Trypanosoma cruzi pode penetrar no organismo humano também pela mucosa dos olhos, nariz e boca ou através de feridas ou cortes recentes existentes na pele.
A doença também pode ser transmitida através de transfusão de sangue, caso o doador seja portador da doença; transmissão congênita da mãe chagásica, para o filho via placenta; manipulação de caça (ingestão de carne contaminada) e acidentalmente em laboratórios.
Sintomas
Na fase aguda a pessoa tem febre, mal estar, falta de apetite, edemas (inchaço) localizados na pálpebra ou em outras partes do corpo, aumento do baço e do fígado e distúrbios cardíacos. Em crianças, o quadro pode se agravar e levar à morte. Frequentemente, nesta fase, não há qualquer manifestação da doença, podendo passar despercebida.
Já na fase crônica muitos pacientes podem passar um longo período, ou mesmo toda a sua vida, sem apresentar nenhuma manifestação da doença, embora sejam portadores do Trypanosoma cruzi. Em outros casos, a doença prossegue ativamente, passada a fase inicial, podendo comprometer muitos setores do organismo, salientando-se o coração e o aparelho digestivo.
A prevenção da doença se baseia principalmente em medidas de controle ao barbeiro, impedindo a sua proliferação nas moradias e em seus arredores. As atividades de educação em saúde devem estar inseridas em todas as ações de controle, bem como, as medidas a serem tomadas pela população, entre elas a melhoria das habitações através de reboco; fechamento de rachaduras e frestas em paredes; uso de telas em portas e janelas, além de impedir a permanência de animais como cães, gatos, entre outros no interior de domicílios.