A partir de janeiro de 2023 os municípios de Montes Claros e Janaúba, sediados na área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS), vão sediar em caráter pioneiro no Estado o Projeto Cuida Chagas – Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas. Trata-se de uma iniciativa internacional inovadora que visa testar, tratar e cuidar de pessoas diagnosticadas com a doença na América Latina.
O projeto está sendo implementado pelo Instituto Nacional de Infectologia – (INI), integrante da Fundação Oswaldo Cruz – (Fiocruz). Até 2025 o Instituto pretende consolidar modelos de implementação para a doença de Chagas, incluindo a utilização de testes rápidos eficazes para o diagnóstico e formas de tratamento de pacientes, que poderão ser replicadas em diferentes contextos.
Além do INI, o Projeto tem a participação da Fundação para o Desenvolvimento Científico Tecnológico Saúde (Fiotec) e atua em parceria com o Instituto Nacional de Laboratórios de Salud (INLASA), sediado na Bolívia; o Instituto Nacional de Salud (INS), da Colômbia; o Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (SENEPA), do Paraguai; e a Aliança Global para Diagnósticos – (FIND). O projeto é financiado pela Unitaid, agência global ligada à Organização Mundial da Saúde – (OMS) e cofinanciado pelo Ministério da Saúde.
Nesta quarta-feira, 19, a Superintendência Regional de Saúde sediou a primeira reunião realizada em Montes Claros para a apresentação do projeto, que envolve a participação de pesquisadoras da Universidade Estadual de Montes Claros – (Unimontes). O encontro contou com a participação da coordenadora do estudo de inovação e validação de testes rápidos diagnósticos da Fiocruz, Franciana Rosa da Silva e coordenadores de vigilância em saúde e de atenção primária à saúde do município de Montes Claros. A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – (SES-MG) foi representada pela coordenadora de vigilância em saúde, Agna Soares da Silva Menezes, e pelo coordenador de Atenção à Saúde, João Pereira Alves.
Em junho deste ano o município de Janaúba sediou encontro de apresentação do Projeto Cuida Chagas, quando foram alinhadas ações a serem executadas visando a realização das pesquisas envolvendo a população das zonas urbana e rural.
Por meio do projeto, Janaúba e Montes Claros vão sediar pesquisa com o objetivo de testar a eficácia da utilização de quatro diferentes tipos de testes rápidos para o diagnóstico da doença de Chagas em crianças, jovens e adultos. Um dos testes rápidos foi desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – (Bio-Manguinhos), da Fiocruz. Utiliza a mesma metodologia desenvolvida para testes que atualmente já estão disponíveis para o diagnóstico de HIV, sífilis, hepatites virais, Covid-19, entre outras doenças.
“Os trabalhos a serem realizados no Norte de Minas, envolvendo a população e profissionais de saúde, vão servir de referência para a implementação do projeto no Paraguai, Colômbia e Bolívia”, destacou a coordenadora da Fiocruz. No Brasil, além de Minas Gerais as pesquisas também serão realizadas em municípios do Pará, Bahia, Goiás e do Rio Grande do Sul.
Através de uma estratégia que combina estudos de implementação e inovação, engajamento comunitário e intervenção no mercado, o projeto busca contribuir para a eliminação da transmissão vertical da doença de Chagas. Nesse contexto, mulheres em idade fértil, crianças e contatos domiciliares serão os principais beneficiários de um conjunto de intervenções.
Em áreas das zonas urbanas e rurais de municípios selecionados para participar do projeto, a população será convidada a realizar exames de sorologia e de testes rápidos para o diagnóstico da doença. Além de pesquisar quais testes rápidos são mais eficazes, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem que trabalham em unidades básicas de saúde também terão a oportunidade de avaliar quais tipos de exames são mais fáceis de serem utilizados, obtendo maior eficiência e rapidez nos diagnósticos.
Além da análise de amostras de testes rápidos em laboratório da Unimontes, a Superintendência Regional de Saúde enviará materiais para análise na Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte. O objetivo será confirmar os diagnósticos, por meio de exames de contra prova.
O projeto Cuida Chagas também vai avaliar o impacto econômico e social que a doença de Chagas causa à população. Até 2025, a previsão é de que o projeto seja implementado em 32 municípios no Brasil, Bolívia, Colômbia e Paraguai, envolvendo 220 unidades de saúde; 235 mil participantes, além de viabilizar o encaminhamento de aproximadamente 9,5 mil pessoas para tratamento.
Na avaliação dos coordenadores de vigilância em saúde e de atenção à saúde da SRS de Montes Claros, Agna Menezes e João Alves, respectivamente, “a inclusão de Montes Claros e Janaúba no Projeto Cuida Chagas traz boas perspectivas para o controle de uma doença que ainda acomete muitas pessoas residentes em áreas onde o barbeiro, principal transmissor da doença, tem grande presença”.
A DOENÇA
Segundo a Fiocruz, “a doença de Chagas é considerada uma das doenças tropicais negligenciadas mais silenciadas. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio.
Ainda de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, aproximadamente 12 mil pessoas morrem por causa de Chagas em todo o mundo. Desse total, entre 8 mil e 15 mil óbitos têm como vitimas bebês que se infectam durante a gravidez ou o parto.
A doença pode ser tratada e curada quando diagnosticada a tempo. “Avançar no seu controle e prevenção é uma tarefa fundamental para garantir o direito à saúde às pessoas afetadas”, concluiu a Fiocruz.