Isso porque discorrer sobre a história de Salinas é também abordar a relação entre a cidade, o rio e a minha escrita, já que este é um elemento natural e fundamental em torno do qual, Salinas e minhas histórias nasceram e se formaram.
Tal fato se deve, principalmente, ao caráter utilitário dos cursos d’água que, além de delimitar e consequentemente proteger as cidades, serviam para o abastecimento hídrico e transporte de matérias-primas e produtos, e no caso de Salinas, o Rio serviu também como fonte de exploração de Sal, pelos portugueses, desde quando seus primeiros moradores foram os índios.
O rio assumia, portanto, a função de um estruturador, oportunizando atividades nas suas margens e favorecendo o desenvolvimento econômico, social, histórico e cultural.
Neste cenário eu nasci, e também nasceu minha obra.
Salinas me ensinou a romper a fronteira falsa entre a oralidade e a escrita.
Eu comecei por escutar, ainda hoje escrevo porque escuto, principalmente as pessoas mais simples e iletradas da minha terra.
Gosto de ouvir realmente o outro, não só a palavra, mas o silêncio do outro, o corpo, as pausas, esse é o segredo.
É preciso também manter um olhar de encantamento e infância, de quem vê o mundo como algo que ainda não conhece e não tem medo disso.
Sobre meu processo de criação, eu costumo explicar que às vezes algo circunstancial, num insigth, no feeling, como uma fala ou um olhar, que aparentemente não tem história, pode funcionar como uma gota d’água para algo maior a escrever.
Escrevo todos os dias, mesmo que eu não esteja em um momento criativo.
Meu texto é livre como um pássaro que voa, e eu gosto que seja assim.
Tenho minha crença no papel do leitor como coautor do que escrevo.
Só faz sentido quando o leitor toma posse das minhas poesias e das minhas histórias.