No período de maior índice da pandemia de Covid-19 o ciclismo foi um dos esportes que apresentou maior crescimento no Brasil. Segundo uma pesquisa da Semexe, Marketplace de Bicicletas Seminovas, em Minas Gerais o aumento de pessoas que optaram por pedalar ao ar livre foi de 15%. Justifica-se que muitos aderiram ao uso do veículo para momentos de lazer, outros para ir até o trabalho ou mesmo ao local de estudo. Em consequência disso, o número de acidentes envolvendo ciclistas também aumentou consideravelmente ano a ano.
Montes Claros é a cidade-pólo do Norte de Minas e muitas pessoas usam a bicicleta como meio de transporte. Para muitos a adequação de infra-estrutura cicloviária (ciclovias), ainda é um problema presente e a realização de intervenções por parte dos órgãos competentes contribuiriam efetivamente para uma melhoria no trânsito.
De acordo com um levantamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, foi registrado em 2020, 303 ocorrências de acidentes envolvendo bicicleta em Montes Claros, o que representou 11% do total de acidentes de trânsito naquele ano.
Já em 2021, essa porcentagem aumentou e pulou para 11,4% do total de ocorrências atendidas pelo SAMU na cidade.
Neste ano de 2022, o último levantamento realizado até o quarto mês (abril) do ano, mostra resultados preocupantes, sendo já registrados 87 chamados, o que apresenta uma média mensal de 22 casos, equivalendo a 10% do total de acidentes até o período de pesquisa.
A equipe de jornalismo do Portal Webterra conversou com alguns ciclistas que destacaram a falta de segurança no trânsito e o comportamento dos motoristas como um agravante.
Para Robson Santos, ciclista há mais de 10 anos, a imprudência é algo muito presente no trânsito. Muitas vezes o condutor tem consciência do que é certo e, mesmo assim, escolhe o incorreto, precipitadamente e sem cautela, tomando uma atitude adversa do esperado.
“Recentemente eu sofri um acidente no sentido de Lagoinha para Montes Claros. Eu estava com minha esposa e o motorista de um caminhão invadiu todo o acostamento e me atingiu de costa, consequentemente me jogando para cima da minha esposa. Eu levei a pancada maior, dei três tombos, capotei, mas não quebrei nada não, só ralei, inclusive já participei até de competições após o fato. Agora minha esposa machucou o joelho e devido à gravidade, ela não voltou a pedalar, pois começou atrofiar a perna e terá que passar por uma cirurgia. Eu digo que foi um grande livramento. A sorte foi que me desprendi dos pedais, pois pela dimensão do acidente era para ter sido algo bem mais grave, e talvez até fatal. Infelizmente tudo por imprudência, já que o motorista passou por cima da bicicleta e não parou, nem reduziu a velocidade, mesma coisa de ter passado por cima de um animal”, conta Robson.
O triatleta, Júnior Maia, diz que, atualmente falta um espaço apropriado para os ciclistas treinarem. Ele participa de diversas competições, precisa se preparar com antecedência para as provas e percebe esta carência de estrutura na cidade.
“Eu pedalo já há bastante tempo e durante este período já me acidentei várias vezes. A classe vem lutando para conseguir uma pista isolada para uso exclusivo dos praticantes. Precisamos de um local para treinamento profissional aqui em Montes Claros. Este espaço já é uma realidade em outras cidades, mas infelizmente só é implantado após muitas tragédias acontecerem” , lamenta Maia.
A Associação dos Ciclistas de Montes Claros – ACICLOMOC, possui como missão contribuir para com o crescimento, a integração e o fortalecimento do ciclismo na cidade através da união da classe e de sua representação e atuação legal.
Para o Presidente da entidade, Sérgio Costa, a cidade vem sendo contemplada com novas estruturas cicloviárias e com a instalação das novas avenidas e também a elevação do preço de combustível, as pessoas estão cada vez mais recorrendo ao uso da bicicleta no dia a dia, e por isso é de extrema importância todos se atentar as normas de trânsito.
“Muitas pessoas tem em mente que a bicicleta está ligada ao lúdico, que é uma brincadeira ou é um esporte da infância, e por esta razão, às vezes, as pessoas usam a bicicleta como se não tivesse que seguir leis e, na verdade precisa! A bicicleta é um veículo e quem o conduz tem que se comportar seguindo as leis de trânsito, as paradas obrigatórias, faixa de pedestre, não andar na contramão, a não ser quando há uma sinalização, já que existem exceções previstas do Código de trânsito Brasileiro. Por isso a associação constantemente realiza ações, principalmente nas redes sociais para enfatizar a educação no trânsito, em especial aos motoristas, porque eles passaram por uma escola, tiveram uma preparação para poder obter habilitação, então a gente parte do princípio que eles conhecem as normas e assim, deveriam se comportar de forma a não colocar a vida do ciclista em risco”, desabafa o presidente.
Entramos em contato com a Prefeitura Municipal de Montes Claros para saber quais são os planos de melhorias para os ciclistas na cidade, mas até o momento ainda não tivemos um retorno.
