Diário de Viagem: A menina e o grilo

Praia

Ela me confessou certa vez, da sua capacidade de conversar com os grilos.
Disse me, que toda manhã aparecia um grilinho esverdeado no cantinho esquerdo da janela velha do seu quarto:
– Ele ia cricrilando sobre coisas que até então eu nem desconfiava que existiam. De coisas desse e de outros mundos que se faziam todas ali, no mesmo mundo.
As breves narrativas diárias quase que invisíveis foram uma porta para a mocinha ao seu entendimento da língua dos grilos.
Dizia ela com astúcia: – Nada tinha a ver com o mundo de costuras mal feitas daqui de fora! Eu via tudo com os olhos emprestados dele, rum! Afirmava olhando séria pra mim.
Rapidinho eu balançava a cabeça em sinal de fé daquela historinha e concordava com tudo; menos uma coisa: jurava de pés juntos que o grilo e a menina eram uma coisa só.

Ceará. Fortaleza, 15 de Abril de 2021.