Na última sexta-feira (04/03), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto – PIB brasileiro cresceu 4,6% em 2021.
Como de costume, alguns desavisados (e por vezes, mal-intencionados), utilizaram a situação como palanque político. Foram se faladas coisas do tipo “não comemos PIB” e “viva o aumento do PIB, enquanto os pobres continuam pobres”. Mas afinal, qual a importância do PIB?
A frase “não comemos PIB” é, de certo modo, correta e bastante útil para apontar que existem coisas que o PIB não capta bem – mas isso é assunto para outra coluna. Porém, a frase se torna um tanto quanto tendenciosa, quando utilizada para tirar relevância de uma queda ou de um aumento do PIB.
Mensuramos o nível de pobreza de um indivíduo em relação a outro pela quantidade de bens e serviços disponíveis a ele. Uma pessoa será mais pobre que a outra quando possui menos bens e serviços à sua disposição para satisfazer suas necessidades.
Quando se trata de países, a situação é similar. Quanto mais bens e serviços disponíveis a seus habitantes, melhor será sua condição de vida e menor será o nível de pobreza.
No primeiro capítulo do livro Introduction to Modern Economic Growth, Daron Acemoglu, economista que também é autor do livro Por que as nações fracassam?, trata de relação entre PIB per capita, que nada mais é do que o PIB dividido pela população, e os níveis de bem-estar de um país.
Vale ressaltar que, embora possua falhas, o PIB per capita ainda é o melhor indicador para retratar a verdadeira riqueza de um país. O indicador mensura a média da riqueza dos indivíduos de cada país. Consequentemente, quanto maior o PIB per capita, maior a riqueza média de cada indivíduo, e, por
definição, menor a sua pobreza.
“Não comemos PIB”. Na verdade, comemos.
Para ilustrar este ponto, Acemoglu apresenta dois gráficos reproduzidos abaixo. O primeiro mostra a correlação (que não é causalidade!) entre o logaritmo do PIB per capita e o logaritmo do consumo per capita. Fica clara a relação positiva entre as duas variáveis, ou seja, não comemos PIB, mas, onde o PIB
por pessoa é maior, o consumo por pessoa também é maior.
O segundo gráfico mostra a correlação entre PIB per capita e expectativa de vida ao nascer. PIB não é comida nem remédio, mas, onde o PIB per capita é maior, as pessoas tendem a viver mais.
“Isso é óbvio”, alguém pode dizer. Correto, mas também deveria ser óbvio que crescimento do PIB é uma boa notícia e queda do PIB é uma notícia ruim. A figura abaixo mostra a correlação entre PIB per capita e o percentual da população com acesso a saneamento básico.
Além de consumir mais e viver mais, quem vive em locais com PIB per capita maior tem menos problemas de acesso à água tratada. Por causa do PIB? Não dá para dizer isso, afinal, correlação não é causalidade. A última figura retorna à frase que motivou o artigo: não comemos PIB, mas, onde o PIB per capita é maior, o percentual da população subnutrida é menor.
Se a economia cresce mais, isso significa que mais bens e serviços estão sendo produzidos. Consequentemente, maior será a qualidade de vida da população. Maior crescimento econômico também significa aumento da renda da população, o que por sua vez permite mais importações de produtos de alta qualidade, reforçando assim todo o ciclo virtuoso. O objetivo aqui não é contestar a frase de que “não comemos PIB”, mas contextualizar a importância do crescimento do PIB e como um maior PIB per capita está correlacionado com algumas características desejáveis de uma sociedade.