Byte Papo: o futuro da robótica em Montes Claros

Imagine-se na seguinte situação: você acorda pela manhã e, ainda na penumbra do quarto, vê as cortinas se abrirem automaticamente com a previsão do tempo mostrada diretamente nas janelas. Ao se dirigir pelos vários cômodos da casa, percebe a sala limpa, o café pronto – e posto à mesa – e todo tipo de comodidade à sua disposição. O melhor: tudo isso realizado por uma série de robôs e comandos de uma casa extremamente inteligente.

Não, isso não é uma cena de um filme de ficção científica – é o que pode ser o futuro de uma área em extrema ascensão em todo o mundo: a robótica. O setor, que pode movimentar até US$ 260 bilhões até 2030 de acordo com o levantamento da empresa de consultoria Boston Consulting Group (BCG), segue como tendência no Brasil em um mercado que cresce em ritmo acelerado.

De acordo com o Mapa do Ecossistema Brasileiro de Bots, o número de robôs no país aumentou 68% em um ano, passando de 60 mil em 2019 para 101 mil em 2020. O avanço já pode ser observado, por exemplo, na área da saúde: houve um crescimento de 60% no uso da cirurgia robótica de 2017 para 2018. Só no começo do ano passado, as máquinas já estavam presentes em 41 hospitais e em mais de 2.300 cirurgias.

Essa tendência de mercado tem sido acompanhada de perto por profissionais em Montes Claros – MG. O Byte Papo conversou com Andrey Guilherme Mendes de Souza, 27, estudante do curso de Sistemas de Informação da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e Monitor em Educação Tecnológica pela ZOOM Education no Colégio Marista São José. O curso é voltado para a área de desenvolvimento de sistemas computacionais e gerência de projetos relacionados à tecnologia da informação.

Dentre os trabalhos já realizados, Andrey já construiu robôs que realizam transporte de carga utilizando um braço robótico, além de um “Robô-Socorro”, que tem como objetivo transportar recursos de saúde automaticamente de um ponto a outro.

Andrey Guilherme desenvolve robôs no trabalho com educação tecnológica nas escolas (Foto: Arquivo)

Segundo Andrey, o objetivo principal da robótica é desenvolver o pensamento computacional para resolver diversos problemas, tendo o robô a finalidade de realizar uma ou várias tarefas as quais foi programado a fazer, tornando o dia-a-dia das pessoas mais dinâmico. “Os robôs facilitam muito a vida das pessoas, automatizando várias tarefas que seriam trabalhosas ou que tomariam um tempo maior para finalizar. Alguns restaurantes nos Estados Unidos já utilizam robôs que carregam bandejas com os pedidos dos clientes nas mesas. Outro ótimo exemplo são os robôs que separam e organizam estoques de produtos em lojas, como na Amazon nos EUA”, elucida.

Mesmo com tamanho potencial, ainda é pequeno o investimento na área.  “Houveram avanços, é claro, pois cada vez mais colégios em Montes Claros estão aderindo à ideia de trabalhar com a educação tecnológica. Porém, é necessário levar a aplicação da robótica para as escolas públicas, que não contam com verba para adquirir os kits LEGO que possuem um preço muito elevado”. Os robôs são desenvolvidos utilizando o Kit LEGO Mindstorms EV3 Education.

 

Alguns modelos de robôs construídos com o LEGO Mindstorms EV3 Education (Foto: Arquivo) 

Para ajudar na divulgação dos trabalhos na área, foram criados em todo mundo diversos Torneios de Robótica. O objetivo desses programas é despertar interesse em ciências, tecnologia, engenharia, artes e matemática, em crianças e adolescentes. Em Montes Claros, várias competições deste tipo já foram, inclusive, realizadas: “Participei de três torneios de robótica aqui na cidade, dois destes realizados pelo Colégio Marista São José e pela ZOOM Education, seguindo o modelo oficial do Torneio Brasil de Robótica. Outro torneio foi organizado pelo Núcleo Educar da Unimontes no evento FEPEG e, o mais recente, aconteceu em outubro no Montes Claros Shopping. Esses torneios são ótimos para divulgar a utilização da robótica nas escolas e, o mais gratificante, é que os alunos adoram participar”, relata orgulhoso.

 

Torneios de Robótica acontecem com frequência em Montes Claros e despertam interesse em ciências nas crianças e adolescentes da cidade (Foto: Arquivo)

 

É claro que paira no ar o medo de um futuro distópico, retratado em filmes, livros e séries, onde os robôs tomam de assalto a humanidade e tratam como escravos qualquer ser vivente. Segundo Andrey Guilherme, esse é um futuro que, embora possível, está longe de acontecer: “Só existe a possibilidade de um robô ‘atacar’ caso ele seja programado com esse intuito por um ser humano, ou um outro robô com inteligência artificial que não siga alguma das leis da robótica [conceito criado por Isaac Asimov que deve ser seguido na criação de robôs para evitar danos aos seres-humanos]. Eu tenho certeza que um dia os robôs vão chegar no nível de ficção científica, mas eu espero que esse comportamento violento de robôs permaneça apenas nas obras de ficção científica mesmo”, completa. A gente também.