Confusão na UPA de Montes Claros: funcionários relatam desacato; pacientes reclamam de demora no atendimento

Foto: Divulgação / Internet.
Foto: Ilustração / Internet.

O Portal Web Terra teve acesso a um vídeo, nessa quarta-feira (8), de um paciente que esteve na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Chiquinho Guimarães, de Montes Claros, na madrugada da última segunda (6). Na gravação do homem, que prefere não se identificar, pacientes discutem com os funcionários da instituição. As imagens não serão divulgadas para não comprometer os envolvidos.

Segundo ele, a confusão ocorreu devido ao atraso no atendimento pediátrico, onde haviam crianças classificadas de verde esperando mais de cinco horas para serem atendidas. O Protocolo de Manchester, que consiste em uma triagem de classificação de risco, na qual a gravidade dos casos é determinada por cores, determina que pacientes triados nessa cor são pouco urgentes e devem ser atendidos em 120 minutos. Havia apenas duas pediatras prestando atendimento no momento.

Ainda, conforme o autor das imagens, impacientes, algumas mães adentraram nos consultórios e discutiram com as médicas, alegando que elas estavam dando preferência a pessoas que tinham chegado depois. Após isso, a Guarda Municipal foi acionada para reforçar a segurança no local, nos plantões seguintes.

Entramos em contato com a gerência administrativa da UPA, na tarde de quarta (8), para falar sobre o caso. Em resposta, disseram que deveríamos entrar em contato com a assessoria da Prefeitura Municipal de Montes Claros.

Fizemos os seguintes questionamentos a prefeitura, no mesmo dia: a presença da Guarda Municipal na UPA é temporária ou permanente? Como os funcionários podem agir caso sejam desacatados? Há algum canal que pacientes possam usar para fazer reclamações? Há previsão de contratação de novos profissionais pediátricos para desafogar o atendimento na unidade? Porém, até a publicação desta matéria, não tivemos retorno.

Mas fomos atrás de fatos.

Funcionários

Entramos em contato com quatro funcionários da UPA Chiquinho Guimarães. Todos pediram para que suas identidades não fossem reveladas.

O primeiro estava de plantão na segunda (6), na hora da confusão. “No momento nenhum guarda estava na unidade e não há grade que impeça os pacientes de entrarem nos consultórios. Então, eles acabam despejando a raiva em quem está na recepção e na portaria”, diz.

Uma segunda servidora nos contou sobre as dificuldades que ela passa durante a jornada de trabalho, que dura 12h, de 19h até as 7h do dia seguinte. “No plantão noturno, ficamos sozinhas na recepção, após 23h, de segunda-feira a sexta. À partir deste horário, temos que dar conta da demanda, que está alta nos últimos dias” revela.

Sobre os problemas, ela cita que é difícil fazer as refeições, que são de direito dos servidores. “Quando nosso colega está aqui, até o final da noite, diminui nossa sobrecarga. Porém, na madrugada, nos finais de semana e feriados, quando ele não está presente, não consigo nem jantar direito, porque não tem outra pessoa para tomar conta da recepção. Também nos foi informado que não temos direito a horário de descanso, porém, as atendentes do diurno conseguem, já que estão em duas”, relata.

Como apurado pelo Web Terra, a UPA possui 10 recepcionistas ao todo, sendo três duplas que se revezam no turno diurno; um que trabalha de 5h às 23h, de segunda a sexta; e três que se revezam nos plantões noturnos.

Inicialmente, outra funcionária chegou a marcar para conversar com a nossa equipe, mas, ao entrarmos em contato, eis a resposta: “eu não tenho nada, nada para falar”. Porém, logo depois, resolveu nos contar sobre o atendimento do local e dos pacientes. “A única coisa que eu tenho para falar é que o atendimento da UPA é excelente. Outra coisa, as mães estão reclamando, porque são barraqueiras mesmo. Estão lá, todos os dias, atrapalhando o nosso serviço. Não tem nada para fazer em casa e estão indo para lá, para nos maltratar muito”, desabafa.

Outro diz que já foi ameaçado por pacientes. “No final de um plantão, fui ameaçado por um que alegava demora no atendimento, o que nem era verdade, pois ele foi chamado pelo médico rapidamente. Além disso, seu acompanhante disparou ofensas homofóbicas contra a minha pessoa. Fiz o boletim de ocorrência com a polícia”, informa.

De fato, foi registrado pela PM, às 07h23, do dia 14 de novembro desse ano, um BO que diz que “em contato com a vítima, este nos relatou que no final de seu expediente de trabalho, na UPA Chiquinho Guimarães, desencadeou uma ameaça por parte do paciente e seu genitor, em seu desfavor. Segundo a vítima, o paciente estava com ânimos exaltados e não tiveram paciência em aguardar, onde primeiramente passariam pela triagem, que deram entrada às 06h15 e passagem por ela às 06h15. Os autores, principalmente o genitor do paciente, voltou para o mesmo e iniciou dizeres homofóbicos, como ‘bicha’, ‘fresco’, e, em tom de ameaça, disse-lhe: ‘você não sabe com quem está lidando’”.

O boletim também informa que, diante da situação, foi feito contato com os militares, porém, quando a guarnição chegou ao local, o paciente e o seu acompanhante já não se encontravam.

Entramos em contato, de novo, nesta quinta (8), com a Prefeitura de Montes Claros para falar, também, desses problemas relatados pelos servidores. Até o momento, sem resposta.

Vale lembrar que o Código Penal prevê o crime de desacato no art. 331, que diz: “desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”.

Além da presença da Guarda Municipal que, até o momento, não sabemos se será permanente, nessa quarta (8), noticiamos que os moradores de Montes Claros e região agora possuem mais uma opção para buscar atendimento de urgência e emergência. Trata-se do Hospital das Clínicas Doutor Mário Ribeiro da Silveira (HCMR), que está funcionamento 24 horas para casos clínicos, obstétricos e pediátricos.

Devido à superlotação em outros hospitais da cidade, os atendimentos no HCMR foram iniciados, assim como já ocorre no Alpheu de Quadros e na UPA Chiquinho Guimarães.

Nesta quinta-feira (9), inclusive, o Hospital Municipal Clemente de Faria (HUFC), informou em comunicado que “está com superlotação da capacidade máxima dos leitos clínicos, cirúrgicos, maternidade, obstétricos e de terapia intensiva não Covid-19. Desta forma, tornou-se necessário, mais uma vez, acionar o Plano de Contingência, e, prioritariamente, atenderá somente aos casos de emergência e urgência”.

Pacientes

Entramos em contato com a mãe de uma criança que estava na UPA, na segunda-feira (6), quando ocorreu a confusão entre funcionários e pacientes. Segundo ela, uma pediatra fez pouco caso de quem estava esperando. “Ela foi até a recepção chamar um paciente, várias mães questionaram o porquê da demora e ela simplesmente respondeu: ‘gente, eu sou só uma’, e saiu. Por isso, algumas mães se revoltaram e chamaram até a polícia”, narra.

O pai de uma outra, que nos enviou um vídeo, disse que só foi atendido após a chegada dos militares e guardas no local. “Após toda a confusão, as pediatras não chamaram mais ninguém por um tempo. Só não desisti, porque meu filho precisava muito do atendimento”, lamenta.

Entramos em contato novamente, na manhã desta quinta (8), com a gerência administrativa da unidade, para sabermos o posicionamento sobre esses relatos. Não tivemos retorno.

Também estamos aguardando a ocorrência da Polícia Militar sobre o fato.

Os pacientes que desejarem fazer um elogio, crítica, reclamação, sugestão ou algum outro relato sobre o atendimento na UPA, podem ligar na Ouvidoria, cujo número é 0800 030 4302, ou fazer comunicado através deste link AQUI.

A Ouvidoria é um órgão autônomo, ligado ao Gabinete do Prefeito e exercerá suas atividades com independência, mantendo sigilo, quando solicitado, sobre a identidade do denunciante ou reclamante.

Mais informações no telefone da UPA Chiquinho Guimarães: (38) 2211-4704.

Esta matéria pode ser atualizada a qualquer momento, caso algum dos nossos contatos resolvam atender aos chamados da equipe de jornalismo do Web Terra.