É permitido usar linguagem neutra na redação do Enem? Professora esclarece dúvida

Portrait of teenager in protective face mask writing in workbook on lesson. New life reality during COVID pandemic

Mais difundida no ambiente virtual, a linguagem neutra surgiu como uma forma de substituir palavras masculinas e femininas por elementos neutros. Também chamada de neo linguagem e linguagem binária , seu uso tem a intenção de acolher as pessoas que não se identificam ou não se sentem confortáveis com os pronomes masculinos e femininos existentes na gramática brasileira.

Pela proposta de uso, a linguagem neutra substitui os artigos  “o” e “a” nas palavras por “x”, “@” ou “e”. Assim, por exemplo, “todos” e “todas” ficam “todes”, “aluno” e “aluna” ficam “alunx”. A intenção de padronizar o uso dessa linguagem tem sido alvo de debates em escolas e até no congresso.

Desde a popularização do uso até atualmente, pelo menos quatro projetos de lei para proibir a utilização da linguagem neutra nas escolas do país já foram apresentados ao Congresso Nacional. Por enquanto, continua formalmente obrigatório o uso da norma culta da Língua Portuguesa por instituições públicas e privadas de ensino e bancas examinadoras de concursos públicos no país.

Foto: Professora Letícia Flores explica se pode usar linguagem neutra em redação / Foto acervo pessoal

No contexto escolar, a professora de redação Letícia Flores acredita que é questão de tempo para que professores passem a falar sobre a linguagem neutra nas salas de aula. “Na minha opinião, o caminho é esse. Os professores vão precisar de um didatismo para ficar claro para esses jovens, e até mesmo para os pais, que é dever do professor, em seu papel social, não só transmitir conteúdo, mas de apresentar e explicar a ocorrência da linguagem neutra na nossa língua. Agora, esse conteúdo não pode chegar na sala de aula de qualquer forma. Isso tem que ser planejado porque essa linguagem ainda é considerada um desvio da norma padrão”, salienta a profissional.

A professora explica, ainda, que a Língua Portuguesa, assim como qualquer outra língua, é um código, e  a linguagem neutra é um código que serve aos falantes no processo de comunicação. “Se a língua serve ao falante, ela vai evoluindo, se transformando de acordo com a necessidade das pessoas. Por isso, é natural que a linguagem neutra ganhe força”, afirma.

O que exige o Enem

De acordo com o Portal do Ministério da Educação (MEC), a correção da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é feita com base em cinco competências: dominar a escrita formal da língua portuguesa; compreender o tema e não fugir do que é proposto; selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecer os mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação e respeitar os direitos humanos.

A professora Letícia Flores explica que a correção da redação do Enem está submetida à norma padrão da Língua Portuguesa. Nesse caso, a linguagem neutra ainda é vista como desvio de linguagem, um vício da norma padrão, e tratando-se de uma prova o aluno está submetido às normas padrões da língua.

“Pode ser que o aluno perca ponto por usar a linguagem neutra no Enem. A penalização de cada competência acontece de 40 em 40 pontos, então você vai de 0 a 200 para cada competência e vai somando de acordo com a qualidade textual em relação a essas competências. Na dúvida, é melhor não arriscar”, defende a professora.

Fonte: Agência Educa Mais Brasil