O trabalho manual começou com a madeira, mas logo a sucata virou matéria-prima para o artista plástico Charles Hermenegildo, de 54 anos. Autodidata, após trabalhar por 15 anos na indústria, onde aprendeu a soldar e trabalhar com ferro, passou a se dedicar exclusivamente ao artesanato.
“Conheci a Adriene Tupinambá, no Instituto Laborearte, e vi que meu trabalho podia ser sustentável”, diz. O que é lixo para muitos, e iria ser descartado na natureza, prejudicando o meio ambiente, se torna arte nas mãos de Charles, que afirma procurar se aperfeiçoar a cada dia.
O artista explica que o primeiro passo para a produção das peças é a separação dos objetos descartados. “O tempo para produção das esculturas é diferente, de acordo com a complexidade do projeto”, explica.
Charles também revela que seu trabalho é totalmente intuitivo. “Vou coletando e selecionando os materiais, e as peças vão surgindo naturalmente de acordo com o que tenho em mãos para trabalhar. Às vezes estou passando na rua e vejo uma televisão, uma lata ou outro objeto descartado. Aí eu levo pra casa e guardo para utilizar nas escultuas”, diz.
Inspirado principalmente em personagens e paisagens do Norte de Minas, Charles produz figuras humanas, animais e também uma arte mais abstrata, mas sempre inspirada em seus valores e ideias. “Não costumo dar nome nem assinar meu trabalho. Porém, ao observar a peça já dá pra perceber que fui eu quem fez”, garante.
Recentemente o artista pode revitalizar e trazer melhorias ao seu espaço de trabalho graças ao incentivo da Lei Aldir Blanc. “Fiquei muito feliz com essa oportunidade, pois sinto falta de um apoio maior aos artistas da nossa terra”, conta.
A sede da Associação Brasileira de Odontologia, por exemplo, possui um mapa do estado mineiro, com destaque para a região de atuação da entidade, onde Charles destacou símbolos que remetem à pecuária, o Rio São Francisco e os violeiros, por exemplo.
A DJ Devochka também possui uma das peças produzidas por Charles, que a fez por encomenda para a artista. A escultura utiliza vinil, molas, uma catraca e aço retorcido, e representa o trabalho de Devochka com a Pick-up (instrumento utilizado pelos DJs).
Para os próximos anos, Charles espera mais reconhecimento dos trabalhos artísticos de Montes Claros pela própria população. “Às vezes temos obras de artistas muito talentosos que moram ao nosso lado, e não conhecemos nem valorizamos esse trabalho”, lamenta.