No Brasil, 11 milhões de pessoas são analfabetas. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples.
Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação, o Brasil deve zerar a taxa de analfabetismo até 2024.
O portal Web Terra conversou com Ellen Parrela que é doutora em educação e faz parte da formação de alfabetizadores na Unimontes em Montes Claros. Para ela ser alfabetizado é estar em condições de se apropriar da cultura, é estar envolvido por uma ela; letrada ao mesmo tempo em que produzir a cultura através da palavra escrita.
“Obviamente que existem outras formas de se fazer cultura, as tradições orais estão aí para comprovar isso; no entanto, escrever e ler foram habilidades que proporcionaram a ampliação da nossa inteligência e a vida humana foi catapultada a outra dimensão a partir da escrita. O código escrito fundou e fez funcionar todo um sistema de trocas de informação, acelerou nossos processos inventivos, nos permitiu criar para além de nossa experiência direta”.
Ellen também destaca que, agora é importante perceber a alfabetização como uma prática iniciática que deve se desenvolver e se aprimorar. Assim como existe uma alfabetização relacionada aos códigos escritos, o momento histórico exige a alfabetização matemática, que se constitui a partir do domínio da linguagem abstrata das relações numéricas, assim como temos que garantir às crianças a alfabetização digital que envolve a capacidade de se apropriar dos códigos de programação que nos tornam autônomos em relação à informática.
Alfabetização em tempos de pandemia
Estudo encomendado ao Datafolha pela Fundação Lemann, e por mais dois bancos , divulgado em junho desse ano, mostra que mais da metade (51%) das crianças em processo de alfabetização na rede pública brasileira ficaram no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprenderam nada de novo durante a pandemia. Entre os estudantes brancos, 57% teriam aprendido coisas novas, segundo a percepção dos responsáveis. Entre os estudantes negros, esse índice cai para 41%.
A doutora em educação diz que na pandemia, os contatos entre a professora e as crianças sofreram rupturas e descontinuidades muito significativas. Entre as crianças pobres, sem condição material para operar o ensino remoto, a realidade foi ainda mais complicada.
“Com toda a certeza o processo de alfabetização foi duramente afetado, uma vez que depende da relação significativa entre a mente infantil que começa a entender a lógica da linguagem escrita e a disponibilidade da professora para fazer suas intervenções pedagógicas em tempo real, no momento em que a criança está em desequilíbrio cognitivo, pronta para os insights que a relação pedagógica pode proporcionar”.