Muita gente nem sabe do que se trata essa frase. Porém, esse era o vaticínio que as mamães (ou avós) lançavam de maneira assustadora especialmente àqueles que, agora, beiram seus 30 anos de idade. Manter a televisão conectada muito tempo no canal 3 ou 4 àquele aparelhinho – cheio de quadrados que pulavam de um ladpara o outro – e que a gente JURAVA que eram bolinhas – parecia ser, segundo nossos pais, a coisa errada a se fazer. Mas por que, então, manter aquele “inimigo” dentro de sua própria casa?
Esse é apenas mais um dos vários mitos que envolvem o videogame no Brasil, desde sua chegada com o Telejogo em 1977 mas, principalmente, com sua popularização na chegada do Atari (e seus clones) no país em 1983. O motivo real era o burn-in, defeito das antigas TVs de Tubo que faziam com que as imagens estáticas dos videogames do passado se fixassem permanentemente na tela mesmo desligada, deixando uma espécie de “sombra” na TV Sharp 21 polegadas novinha, ainda na segunda prestação. O que os nossos pais nos diziam: “isso vai queimar a TV e ainda a sua visão”. Era espantoso, porém desafiador.
O desafio é, aliás, algo inerente ao ser-humano que se aventura por um videogame, desde o primeiro momento em que ele segura um controle na mão. Me lembro da primeira vez que me aventurei num joystick: foi no ano de 1988 que a minha mãe apareceu em casa com uma caixa desengonçada e, dentro dela, o aparelho que mudaria minha vida: o Atari 2600. Mais precisamente o Dactar, clone brasileiro do Atari feito pela Milmar que dominava o mercado por um simples fato: era barato e acessível.
Esse feito era possível pela Lei de Reserva de Mercado, que foi a primeira Lei de Informática no país, ainda no ano de 1984. Frank Santiago, Historiador e Gamer montesclarense relembra o panorama da época: “estabeleceu-se na época uma reserva de mercado para itens de informática. Por mais absurda que pareça tal lei em um mundo globalizado, a nova legislação tinha como objetivo uma criação, revitalização e fortalecimento de uma indústria nacional do setor de informática”. Na prática, transformava um videogame original que era quase impossível de se adquirir (e que custava cerca de R$ 1.736,00 em 1983) em uma opção mais agradável ao bolso dos pais da época.
De lá pra cá, muita coisa mudou. A tecnologia evoluiu e nós, navegantes do barco da globalização, tivemos que nos adaptar: muitos por afinidade, outros por necessidade. Afinal de contas, quem agora não precisa obrigatoriamente dominar, por exemplo, aplicativos de banco no celular com o sumiço das agências bancárias?
É essa experiência do dia-a-dia do sertanejo norte-mineiro, aliado à tecnologia, que queremos retratar aqui no Byte Papo. Notícias, discussões (sem Console War, hein?), as novidades dos mercados de games, celulares, computadores… As lembranças nostálgicas de outrora e, claro, tudo isso com muito bom humor. O negócio é a gente se divertir!
Diversão, aliás, é a palavra-chave de todo gamer, tanto pra quem aproveita os videogames de última geração (como Playstation 5 e Xbox Series X), quanto pros aficionados como o Andrey Lopes, 36, comerciante, que mantém em casa até hoje o Atari que ganhou do pai em 1992. “Foi um meio de acalmar as coisas em casa, já que éramos 4 irmãos”, diz. E foi assim que os pais nos armaram com essa mistura de bytes, bits e RAMs, com objetivo de acalmar crianças inquietas desde a década de 1980: colocando dentro de casa o melhor “inimigo” que poderíamos ter.