Cavalo sacrificado gera discussão e revolta em Montes Claros

Foto: Corpo de Bombeiros / Divulgação

Cavalo que caiu em córrego na última sexta-feira, 9, no bairro Floresta, em Montes Claros foi sacrificado por uma clínica particular e gerou revolta por parte do dono do animal. Ele procurou o Portal do Povo, quadro novo do Web Terra, para expressar indignação e pedir ajuda as autoridades. Segundo Hélio Carlos de Jesus, ele foi prejudicado e acredita que não havia a necessidade do animal se submeter à eutanásia. Hélio afirmou ainda, que o cavalo estava com boas condições de saúde e sente que foi vítima de uma injustiça e por parte dos profissionais e vereadora protetora dos animais que acompanharam a ação.

Hélio conta como as coisas aconteceram e diz que ficou surpreendido com a ligação dos militares. Segundo ele, o cavalo estava aparentemente bem e se recuperando do acidente.

“Assim que amanheceu por volta das 7h da manhã, eu fui levar ração para o meu cavalo e o encontrei deitado na vala, acho que ele se desequilibrou e caiu dentro do buraco. Fiquei desesperado e liguei para o Corpo de Bombeiros pedindo ajuda, eles chegaram rapidamente no local e fizeram o resgate. Após me devolverem o animal, falaram que aparentemente ele estava forte e bem de saúde, e eu precisava apenas levar ele a um veterinário para avaliá-lo. Porém na mesma noite por volta das 23h30 a polícia me ligou para comparecer onde eu guardava o animal, dizendo que eu fui denunciado por maus tratos e meu cavalo seria sacrificado por não ter condições de viver”, conta o carroceiro.

Cigano, como era conhecido o cavalo, foi comprado no final de 2019. Segundo o seu tutor, o carinho dele era muito grande com o animal, já que esse era sua única fonte de sustento. Hélio relata que sempre buscou oferecer todo o suporte e cuidados para manter o animal saudável e apto para os trabalhos diários.

“Meu cavalo era minha única fonte de renda. Eu não recebo nenhum auxílio do Governo, não tenho ajuda de ninguém. Eu moro de favor com meu irmão, cunhada e dois sobrinhos. Os trocados que eu ganhava com os serviços de carroceiro e reciclagem eram a minha única forma de sobrevivência. Estou desesperado, pois não sei como irei fazer agora para pagar minhas contas e viver. Não tinha necessidade da denúncia, eu e o meu cavalo fomos vítimas nessa história toda”, conta Hélio.

A equipe do Portal Web Terra entrou em contato com a mulher que deu início a denuncia logo após encontrar o animal deitado no campo. Ela descreveu ao Portal como tudo aconteceu.

“Sou moradora do bairro Floresta há cerca de dez anos. Meu bairro tem muita área verde e infelizmente facilita muito para que as pessoas soltem animais para que, de alguma forma, eles possam se alimentar. Já me deparei várias vezes com animais com as patas amarradas impossibilitando-os de alimentar, e eles ficam ali jogados, com sede e com fome. Nesta última sexta-feira, eu me deparei com uma situação muito triste e que eu não gostaria de ter presenciado e participado jamais”, desabafa a moradora, Kátia Gonçalves.

Katia conta que por volta das 21 horas, ela passava pelo córrego e notou que havia um animal deitado no campo. Ela descreve que ele estava se debatendo bastante e apresentando algum incomodo. Nesse instante ela olhou ao redor para procurar auxílio e avistou dois policiais de moto.

“Fiquei muito preocupada com a situação, sinceramente eu achava que o animal estava tentando se levantar e não conseguia porque estava com as patas amarradas, essa foi a minha conversa com os policiais, mas ao atravessar o córrego, constatamos que ele não estava com as patas amarradas, e isso me deixou mais angustiada, pois ele se debatia muito. Com a situação, eu fiquei muito impressionada e triste sem saber o que estava acontecendo e principalmente o que havia acontecido antes com aquele animal que estava todo machucado, sofrendo e sem forças. Os policiais começaram a ligar solicitando ajuda e eu comecei a espalhar fotos e vídeos nas redes sociais a fim de localizar o dono do animal. Rapidamente a vereadora Ceci Protetora chegou ao local, preocupada e disposta em ajudar  – ela ligou para uma veterinária que se prontificou em ajudar”, relata Katia.

TESTEMUNHAS

Segundo testemunhas, o animal ficou abandonado o dia todo sofrendo. Antes da denúncia, o dono (Hélio) não havia aparecido para prestar assistência.

“Talvez se o cavalo tivesse sido tratado durante o dia, o fim dele poderia ter sido outro, a história poderia ter tido um final melhor”, desabafa a moradora.

A vereadora Ceci Protetora informou que recebeu a denúncia como outras inúmeras que chegam até ela diariamente. A parlamentar que é também é protetora de animais compareceu ao local e se deparou com a cena relatada acima.

“Quando cheguei para verificar a situação, encontrei um animal extremamente debilitado e acionei uma médica veterinária para tentar ajudá-lo. A Polícia Militar já se encontrava no local, a pedido da solicitante. Ao consultar o animal, a médica veterinária constatou que seu estado era crítico, sendo a eutanásia necessária para oferecer alívio ao equino, que se encontrava em sofrimento por horas”, afirmou Ceci.

A veterinária contratada por Ceci é de uma clínica particular, pois no horário dos fatos, o Curral Municipal não estava funcionando. O procedimento foi realizado na presença do tutor, que não se opôs em momento nenhum, quando foi informado pelos policiais que o animal seria eutanasiado.

“Cabe ressaltar que, como protetora, meu intuito não foi causar nenhum tipo de retaliação em face do tutor do equino, mas tão somente resguardar os direitos daquele animal que foi deixado em sofrimento no local e sem nenhum tipo de assistência veterinária”, afirma a vereadora.

Ceci ainda destaca que estava no local como protetora da causa e não como parlamentar.  “Em minha função, continuarei lutando em prol da dignidade e da proteção animal para que casos como esses deixem de fazer parte do nosso cotidiano. Ao final, solicitei ao órgão competente para que fizesse o recolhimento e a devida destinação do animal, evitando assim, mais um transtorno para a comunidade local”, conclui Ceci.

LAUDO MÉDICO

A médica veterinária, Deborah Martins Mota Takaki, que atendeu a ocorrência informou em seu relatório que a eutanásia realizada no animal teve o objetivo de evitar maior sofrimento nele, visto que as condições de saúde do mesmo não eram favoráveis.

Takaki explica que o animal apresentava em decúbito lateral direita, movimentos de pedalagem, ausência de sensibilidade superficial e profunda ao longo do tronco, dorso, garupa e membros. Também apresentava grau de desidratação maior que cinco – na ausculta cardíaca o animal estava taquicardíaco com presença de sopros contínuos e na ausculta pulmonar apresentava crepitação, além de taquipnéia e dificuldade na inspiração.

“O animal estava com escore dois, apresentava cicatriz do globo ocular esquerdo, escoriações de pálpebras bilaterais, além de corte profundo da pálpebra superior direita e possível lesão do globo ocular direito decorrente do decúbito. Apresentava também hipomotilidade nos quadrantes superiores e inferiores, escoriações ao longo do dorso, garupa, articulação do joelho, jarrete e boleto do MPD, codilho do MAE, além de mucosa oral levemente cianótica e diminuição do reflexo palpebral”, relatou a médica em laudo.

Para a veterinária, Hélio de Jesus contou que foi realizado medicamento injetável dias antes, e que o animal estaria com “raiva”, seguido de um quadro de melhora. Tendo em vista o quadro clínico do animal e prognóstico desfavorável, a médica optou pela eutanásia, dentro de todos os meios legais, a fim de se evitar maior sofrimento do animal.

ENTENDA O CASO

Um cavalo foi resgatado pelos bombeiros depois de cair em um buraco de dois metros de profundidade nesta sexta-feira, 9, no bairro Floresta, em Montes Claros. Segundo o sargento Carlos Roberto, o animal caminhava na beira de um córrego quando se desequilibrou com as patas dianteiras e caiu dentro do buraco.
“O cavalo provavelmente se desequilibrou e veio a cair no interior da vala. A equipe foi acionada e realizamos o resgate utilizando equipamentos de proteção e técnicas de salvamento. Aparentemente o cavalo não teve fraturas, mas aparentava está bem cansado”, disse o sargento. O cavalo ficou sob os cuidados do proprietário que acompanhou todos os trabalhos durante o resgate.
Leila Santos
Graduada em Jornalismo pela Funorte, Leila tem uma sólida trajetória na comunicação, com vasta experiência em diversos veículos de imprensa. Atualmente, faz parte da equipe do Portal Webterra, onde se destaca pela entrega de informações precisas e relevantes, sempre comprometida com a qualidade e a integridade jornalística.