O dia internacional do Orgulho LGTBQIA+, celebrado em 28 de junho, deveria ser um momento de alegria em todo mundo. Porém, infelizmente, a data representa luta pela igualdade e respeito – a data é um lembrete para todos que toda forma de amor é válida.
O Portal WEBTERRA entrevistou Ailton da Guia Gonçalves Júnior, de 27 anos, conhecido como Tim. Ele é membro da Aliança Nacional LGBTI+ de Montes Claros e acadêmico de história pela Unimontes. Tim, diariamente enfrenta o preconceito simplesmente por ser quem ele é: preto e gay.
“Ailton da Guia Gonçalves Júnior, sou conhecido como Tim e assim sou chamado. Tenho 27 anos, sou preto, gay, candomblécista e meu nome no candomblé é Sinandejú”, enfatiza o universitário.
Para Tim ou Sinandejú, a sociedade brasileira, bem como a montes-clarense carrega consigo as fortes marcas do racismo estrutural e com ele também a lgbtifobia, cada vez mais forte e subnotificada. O universitário aponta que a pessoa preta lgbti+ sofre um duplo de violência.
“Para a nossa sociedade, as pessoas lgbti+ pretas são marginalizadas, são animalizadas e servem para suprir os fetiches criados no período colonial. Os pretos morrem e os lgbti+ morrem a todo o momento enquanto levantamos as tags “Vidas negras importam” e “amor é amor”, esse sonho americano não é suficiente é necessário termos consciência do mundo em que vivemos e sempre buscar melhorias para ele”, enfatiza.
Em estudos sobre pessoas LGTBQIA+, a violência punitiva é uma das principais formas utilizadas pela família na tentativa de reprimir o filho. Tim lembra que essa violência começa na infância e em muitos casos a morte. O Trans Murder Monitoring (“Observatório de Assassinatos Trans”) aponta que o Brasil é o país que mais mata LFBTQIA+. O país está no topo da lista pelo 12° ano consecutivo.
“O bullying na infância era constante, eu era uma criança preta, cercado de outras crianças brancas, eu tinha muita dificuldade de socializar e era árdua minha rotina pois tinha que lidar com os xingamentos e as agressões. A sexualidade era algo que dava pra velar até certo ponto, até eu dar conta de arcar com o fato de que eu me interesso afetivamente por outros homens, hoje, busco não lembrar essa fase tenebrosa e violenta da minha vida, prefiro lutar por um mundo que me garanta o direito de existir. Procuro me manter vivo, não quero ser estatística, busco minha proteção, a proteção do povo preto e lgbti+ “, pondera.
GAY E PRETO
Na visão do estudante, Tim, a sociedade racista atrofiou a masculinidade preta, rebaixou o homem preto a um estado animalesco. “O preto gay, assim como o hetero preto é marginalizado, porque o preto gay deve cumprir o papel heteronormativo dessa masculinidade negra marginal criada no decorrer da formação da nossa sociedade”, destaca.