Uma em cada quatro pessoas, com 18 anos ou mais, era considerada obesa em 2019, no Brasil, o que corresponde a 41 milhões de brasileiros. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2003 e 2019, a proporção de obesos com 20 anos ou mais no Brasil mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8%.
Paralelo ao crescimento de pessoas obesas está o aumento no número de cirurgias bariátricas realizadas no país. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), no ano passado foram realizadas 68.530 cirurgias bariátricas, 7% a mais do que em 2018.
O procedimento é indicado para tratar casos graves da obesidade, é o que explica o Cirurgião geral e do Aparelho Digestivo, Samir Almeida Borges.
“A bariátrica deve ser pensada em pacientes com obesidade grave, classificados com índice de massa corporal (calculado pelo peso/altura²) maior que 40, ou entre 35 e 40 associados a doenças que são pioradas pela obesidade, como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, etc”, afirma.
O especialista, que é membro associado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, atende em Montes Claros desde janeiro de 2011, e se tornou referência no tratamento. Apesar de atestar a eficacia da bariátrica, o médico alerta que “deve ser tentado o tratamento clínico da obesidade antes de se pensar em cirurgia, ou seja: a cirurgia é o último recurso para o tratamento da obesidade”, diz.
Mudança de vida
A professora de inglês e psicóloga, Sarah Fernanda Nunes Marques Soares, de 41 anos, passou por uma bariátrica. A cirurgia foi realizada em 2016, mas segundo ela, a convivência com a obesidade vem desde os 15 anos. Sarah passou por inúmeros profissionais, realizava atividades físicas e chegou a tomar medicamentos moderadores de apetite, mas não conseguiu emagrecer.
Até que uma colega de faculdade fez a cirurgia e ela decidiu realizar o procedimento. Além de fazer pesquisas sobre o assunto na internet, Sarah passou por dezenas de especialistas, como nutricionista, anestesista, cardiologista e psicólogo. “Cada consulta foi um passo para alcançar o objetivo. Enfrentei a balança, a fita métrica, as minhas limitações”, afirma.
Essa parte do tratamento, antes da cirurgia, com uma equipe de diversos especialistas, é uma das mais importantes na opinião do doutor Samir. “Muitas vezes o primeiro médico que o paciente procura é o cirurgião, nestes casos vai precisar ser encaminhado de volta a esta equipe multiprofissional, para ser adequadamente orientado, avaliado e tradado. Uma vez que, de forma coletiva foi feito a indicação da cirurgia, é necessário avaliar o risco cirúrgico e preparar para a cirurgia com máxima segurança”, ressalta.
A cirurgia
Sarah, que tem 1,74 de altura, pesava no dia da cirurgia 108,6 Kg. A operação foi um sucesso, assim como o pós operatório. O apoio da família e dos amigos foi fundamental.
“Enquanto obesos somos muito estigmatizados e rotulados, como ser obeso fosse apenas más escolhas alimentares, como se nos faltasse amor-próprio ou determinação ou coragem. Por isso, o apoio da família e amigos é importante durante todo o processo”, conta.
Quatro anos após a bariátrica, a psicóloga faz questão de deixar claro que a cirurgia não é uma varinha mágica em que a obesidade desaparece, mas sim, é uma ferramenta metabólica que ajuda na reeducação alimentar, e na quantidade ingerida. Sarah está feliz com os atuais 75 kg.
“Continuo com o acompanhamento nutricional, atividade física e acompanhamento psicológico. Para mim, comida é uma válvula de escape, é refúgio, é um vicio, mas ao contrário dos outros vícios eu não posso me abster, eu tenho que conviver com ela. Há dias que somos amigas, há dias que somos inimigas, e nestes dias, eu me desculpo e recomeço no dia seguinte. Se tivesse que escolher fazer a bariátrica novamente, ciente da experiência que vivi, eu escolheria fazer novamente”, finaliza.
Tipos de bariátrica e riscos
O médico Samir Almeida Borges, explica que as duas cirurgias bariátricas mais realizadas são a Gastrectomia Vertical, na qual é reduzida a capacidade do estômago sem fazer desvios, e o Bypass Gástrico, que é um procedimento em que o estômago é reduzido e é feito um desvio, de maneira que o fluxo do alimento ingerido passa a percorrer outro trajeto.
Para o especialista, cada um dos métodos guarda características próprias, positivas e negativas, sendo necessário analisar de forma individual, cada paciente, para minimizar os riscos. Segundo ele, problemas como infecção, tromboembolismo, vazamentos no intestino ou no estômago (chamados de fístula) podem ocorrer em pacientes que passam pelo procedimento.
“Além deles existem os riscos que estão relacionados ao estado nutricional, emocional, podendo haver deficiências de vitaminas e minerais, anemia, até mesmo abuso de álcool drogas, depressão. Por estas razões precisamos de muita responsabilidade, tanto por parte dos pacientes, como por parte dos profissionais que se dispõem a cuidar dos mesmos”, alerta.
A dica da Sarah é valiosa para quem deseja passar pela bariátrica. “Confie no seu cirurgião, faça o acompanhamento físico, nutricional e psicológico desde a primeira visita. Ouvidos atentos às informações e pense, repense antes de tomar esta decisão”, diz.
Procedimento pelo SUS
Em 2019 o Brasil realizou 12.568 cirurgias bariátricas pelo SUS, um crescimento de 10,2%, se comparado a 2018. Apesar da alta, a diferença é grande se comparado com os procedimentos realizados por meio de planos de saúde, foram um total de 52.699 cirurgias. Já por meios particulares, pagos integralmente pelos pacientes, foram 3.263 procedimentos.
Entre janeiro e junho de 2020, foram realizadas 2.859 cirurgias pelo Sistema Único de Saúde. No mesmo período, no ano passado, foram 5.382 operações. Segundo a SBCBM, a queda se deve à suspensão das cirurgias eletivas por causa da pandemia do novo coronavírus.
O Norte de Minas não possui cirurgia bariátrica realizada pelo Sistema Único de Saúde. De acordo com o doutor Samir Almeida Borges, o problema acontece porque o atendimento pelo SUS depende da criação de um centro de referência, com todos os profissionais envolvidos no pré e pós operatório. Para ele, a medida dependeria da autorização e do interesse do poder público.
“A nossa equipe busca este serviço desde o ano de 2012, já fizemos reuniões na secretaria municipal de Saúde, até mesmo na gerência regional de saúde. Continuamos a disposição e em busca deste serviço, que acreditamos ser de grande relevância para saúde pública no Norte de Minas”, finaliza.