O número de desempregados chegou a 12,7 milhões em maio no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); após a pandemia do novo coronavírus a previsão da instituição é de que este número salte para 20 milhões. Com muita gente à procura de uma vaga, perfis do instagram que divulgam, gratuitamente, postos de trabalho, têm virado a sensação dos desocupados.
Quem estava ansiosa para conseguir uma vaga e ficou sabendo de uma dessas páginas, foi a Steffani Gonçalves Almeida, de 27 anos. Formada em engenharia de produção, ela ocupa agora o cargo de gerente administrativa de uma empresa em Montes Claros, no Norte de Minas; vaga que foi divulgada em um perfil de emprego da rede social. Um alivio para a jovem que ficou seis meses sem trabalho.
“Eu não achava que iria conseguir essa oportunidade, parecia meio improvável por causa do volume de interessados. Esse novo meio é muito importante, inclusive para quem não tem condições de pagar uma agência de empregos”, afirma.
Outro que buscou no instagram uma oportunidade foi operador de equipamento, Edinaldo Júnior. Ele ficou sete meses desempregado e revela que passou a enxergar essa iniciativa como uma evolução. “É algo que temos que reconhecer muito. Um trabalho gratuito que pensa no próximo”, diz.
Quem teve a brilhante ideia de criar uma dessas páginas no instagram foi o Osnar Fernandes Aguiar. O empreendedor percebeu que poderia implementar novos negócios nas redes sociais e criou um perfil para divulgar vagas de emprego; a página dele conta com 38,9 mil seguidores.
“Resolvi criar o perfil baseado na ideia de que muitas vagas não eram preenchidas devido à falta de divulgação. Além disso, queria combater muitos anúncios fakes. Então a minha ideia é divulgar, ao máximo possível, as vagas que encontro ou as que são enviadas pra mim”.
Ideia parecida teve o professor e engenheiro da computação, Pedro Ritchelly Silva Veloso. Ele migrou do whatssap – onde tinha grupos que divulgava oportunidades de emprego – para a rede social; a página que administra tem 31,6 mil seguidores.
“Procurava vaga na minha área e divulgava as que não serviam para mim, mas que poderiam ajudar outros. Mas o alcance de um único grupo no whatsaap é limitado. Migrei o ‘serviço’ para o instagram, onde o alcance é muito maior”, afirma.
Empresas de olho
O comerciante do ramo de cosméticos, Jeferson Fernando dos Santos Cabral, divulgou quatro vagas por um perfil de anúncios, e revela que economizou bastante, resultado: conseguiu contratar quatro novas funcionárias.
“Já até anunciamos vagas em aberto em agências de emprego, mas a diferença é que no instagram é mais prático, rápido e barato. E o melhor, facilita tanto para a empresa quanto para os candidatos à vaga”.
O gerente de uma franquia, Daniel Gomes Tolentino, também aderiu a praticidade das páginas de divulgação e já anunciou diversas vezes.
“No último anúncio que tivemos, o resultado foi tão bom quanto ao de uma agência de emprego. Inclusive em uma das agências, não conseguimos nenhum resultado. Para a minha empresa em específico, cujo o principal objetivo é o fácil acesso da população a todos os meios, tem sido muito vantajoso a ajuda de páginas em redes sociais, haja vista que, não se paga valor algum para ter acesso às vagas disponibilizadas por elas”, diz.
Um novo negócio?
Uma pesquisa da Herospark mostrou que quase metade dos entrevistados que possuem negócio digital, há mais de um ano, transformou o empreendimento em sua renda principal e, 40% deles, tem o instagram como principal canal de divulgação.
O Consultor de Marketing do Sebrae Minas, Mateus Martins, concorda com o resultado da pesquisa. Segundo ele, a divulgação de vagas, por meio da plataforma estão claramente se tornando um negócio de maneira bastante original.
“Atualmente esses perfis fazem um trabalho meramente de mediação, entre as pessoas que estão procurando oportunidade e os empresários que querem empregar. Mas futuramente eles podem oferecer um serviço mais robusto, como analisar os candidatos, ver quem realmente tem o perfil e quais são as habilidades que os empresários desejam para a vaga” analisa.
Segundo o especialista, uma grande vantagem é que esses empreendimentos começam com baixíssimo custo, já que esses perfis não tem uma estrutura física, nem funcionários e podem facilmente migrar para uma agência de recursos humanos digital ou um site com estrutura bem formatada.
“Essa é uma tendência muito forte; antigamente quando alguém queria um emprego recorria ao jornal impresso, na página de classificados. Hoje é mais que normal usar a internet para buscar por emprego. Muitas empresas construíram negócios milionários a partir dessas buscas, como por exemplo o site ‘vagas.com’”.
Cuidado com o golpe
Dados de um relatório elaborado pela Konduto mostrou que a taxa de tentativas de fraude no comércio eletrônico brasileiro aumentou 14% entre 2018 e 2019. Os constantes registros desse tipo de crime relacionados a vagas falsas, em Montes Claros, levaram o empreendedor, Osnar Fernandes Aguiar a iniciar uma campanha de alerta. Segundo ele, muitos seguidores já caíram no golpe de ter que pagar por cursos para supostamente conseguir um emprego, mas a vaga se quer existia.
O diretor do Procon em Montes Claros, Alexandre Braga, é claro: essa situação pode configurar publicidade enganosa por parte da empresa, cabendo a aplicação de penalidades administrativas.
“A suposta oferta de emprego estaria sendo utilizada apenas para atrair as pessoas, sem garantia alguma de que após a realização do curso haveria a efetiva contratação para a vaga anunciada. Trata-se de prática ilegal”.
Outro golpe denunciado por Osnar é cada vez mais comum, a clonagem de dados pessoais. “Eu já me deparei com casos de pessoas que ao se inscrever em uma vaga preencheram formulários com todos os dados pessoais, os estelionatários aproveitaram dessa fragilidade e clonaram os documentos”, conta.
Alexandre Braga reforça que os mecanismos de segurança da internet estão sendo aprimorados em todo o mundo, mas ainda existem muitos golpes sendo aplicados e por isso o cuidado deve ser redobrado.
“O consumidor que descobrir que encaminhou dados para sites fraudulentos deve registrar ocorrência policial, visando resguardar a segurança dos seus dados, que podem vir a ser utilizados pelos criminosos para a prática de outros delitos. o consumidor que se sentir lesado pode procurar o Procon”.
**Escrita pelo repórter Carlos Alberto Jr.