Uma recém nascida passou por uma cirurgia inédita, nesta quarta-feira (22 de julho), no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF). A pequena Ayla Emanuely Gomes de Souza, nasceu com “Gastrosquise”, má formação congênita que é caracterizada por defeito na parede abdominal, e que permite que as vísceras, como estômago e intestinos, saiam por uma abertura.
A dona de casa Géssica Lorrany Souza Rocha, de 20 anos, que deu à luz uma menina é natural de Janaúba, no Norte de Minas, e conta que a descoberta do problema se deu durante o pré-natal realizado em na cidade dela e teve acompanhamento médico até o momento do nascimento da da filha.
“Os médicos de Janaúba me acompanharam direitinho. E a equipe do HUCF me recebeu muito bem. Sempre atenciosos, eles me deixaram tranquila durante a cesárea. Ainda não puder ver minha filha direito, mas, assim que ela sair do Centro de Tratamento Intensivo (CTI), vou colocá-la em meu peito, para que sinta o quanto a amo”, declarou a mãe, sem esconder a emoção logo após o parto.
A cirurgia
A intervenção cirúrgica transcorreu com o bebê recebendo a anestesia através do cordão umbilical enquanto a medicação foi feita por via endovenosa na mãe. O remédio opióide (remifentanil) foi ministrado em doses proporcionais ao peso da mãe, sob sedação superficial, enquanto os médicos realizaram o procedimento cirúrgico (Simil-Exit).
A técnica foi criada pelo médico cirurgião Javier Svetliza, na Argentina. Foram necessários sete profissionais da equipe do Hospital Universitário para a realização da cirurgia: dois cirurgiões pediátricos, dois obstetras, dois pediatras e um anestesista. Participaram ainda uma enfermeira, dois técnicos em enfermagem e um fisioterapeuta.
Um dos responsáveis pelo avançado procedimento, o cirurgião pediátrico Renato Neves Noronha explicou que a nova técnica se diferencia de outros procedimentos pelo fato de ser feita enquanto a criança ainda estar ligada a mãe pelo cordão umbilical.
O especialista ressalta os benefícios da técnica Simil-Exit:. “além do efeito psicológico na mãe ao ver o filho normal, sem má-formação, a técnica permite menor lesão no intestino da criança, com início precoce da dieta, altas mais rápidas do CTI e do hospital, redução na taxa de mortalidade e menor risco de infecção, dentre outros fatores”, disse.
Já o médico obstetra Laércio Fonseca Costa explica que é extremamente importante a gestante realizar o acompanhamento do pré-natal e realizar o ultrassom morfológico que indicará má-formação ou não durante a gestação do bebê.
“Esse acompanhamento é necessário para que a gestante possa ser submetida À cirurgia entre a 34ª e 37ª semana de gestação, no momento certo e com uma equipe multidisciplinar qualificada, com a vaga na UTI já reservada para o bebê, mãe e filho terão todo o suporte necessário”, destacou.
De acordo com o cirurgião pediátrico Renato Noronha, “é muito gratificante para a nossa equipe multiprofissional que participou desta cirurgia inédita na região poder ajudar a gestante em um momento de grande fragilidade, medos e incertezas. E ainda mais quando a cirurgia é feita para salvar a vida de uma criança”.
Gastrosquise
A Gastrosquise é uma malformação congênita, que mantém fora da cavidade abdominal do feto uma grande parte dos intestinos, por vezes incluindo até o estômago. É consequência de um problema no fechamento da parede abdominal na fase fetal, persistindo um anel aberto ao lado do cordão umbilical, que mantém as alças intestinais fora da cavidade abdominal.
De acordo com especialistas, é uma doença que varia em incidência entre um por quatro mil a um para 10 mil recém-nascidos vivos. Acomete mais filhos de mulheres jovens e primíparas (do primeiro parto).
**Com informações da Ascom/HUCF